NEM SÓ DE TRIGO, MILHO E CENTEIO SE FAZ PÃO

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Quando hoje falamos em segurança alimentar global, estamos a esgrimir (quase sempre) argumentos políticos pouco verdadeiros. Quando nos dizem que o milho e o trigo da Ucrânia são fundamentais para matar a fome nos países mais pobres da Ásia ou de África, estão-nos a dizer uma meia-verdade ou uma semi-mentira…

Viajei muito já pelo continente africano e vivi uns anos no sudeste asiático e, nesses países mais pobres e assolados por guerras, negligência governamental, pobreza extrema, o que as pessoas comem é sorgo (além do arroz). Este cereal é a base da ajuda internacional às populações mais pobres do mundo. Aquilo que na Europa ou na América do Norte é a base das rações para animais, é aquilo que damos aos pobres para comer. Esta é a verdade, testemunhada por mim. Ninguém me disse que era assim. Vi com os meus próprios olhos e comi esse sorgo com as pessoas com quem estive. Estou a falar, por exemplo, da República Democrática do Congo, do Sudão, da República Centro Africana, de Angola.

campo de sorgo

Tradicionalmente, o negócio alimentar europeu e americano está baseado no trigo e no milho. Mas o sorgo é um bom cereal. Come-se em farinha ou em grão, semelhante a lentilhas. O sorgo fermenta, tal como o trigo, portanto também serve para produzir bebidas alcoólicas. No Sudão, bebe-se uma espécie de cerveja feita à base de sorgo.

No campo, o sorgo não precisa de ser irrigado e é uma planta livre de pragas. Ou seja, cultivar sorgo é mais favorável à proteção ambiental, porque poupa água e evita o uso de pesticidas. É igualmente uma planta menos exigente em termos de adubo na terra. O sorgo é rico em proteína e tem quase todos os aminoácidos essenciais, mas na Europa ainda é um nicho de mercado para alimentação humana.

sorgo

Creio que os agricultores alentejanos fariam bem melhor se em vez de insistirem nos amendoais e olivais, nas estufas de hortícolas a perder de vista, pensassem em diversificar para culturas menos agressivas para a natureza.

Quem viajar pelo Alentejo já não vê o “mar” de trigo que rodeava montados e que, depois de colhido, era pasto abundante para o gado. Hoje, temos quilómetros e quilómetros de olival e amendoal, agricultura intensiva, regados gota a gota pela água do Alqueva.

Dizem os ambientalistas que estamos a dinamitar o futuro da agricultura alentejana, a exaurir os recursos do solo e a secar as reservas aquíferas.

É difícil encontrar uma mosca ou mosquitos em Évora, apesar da cidade estar suja devido à deficiente recolha dos resíduos urbanos. Os insetos rareiam na medida inversa em que a nova agricultura usa e abusa dos inseticidas e pesticidas. Um custo altíssimo para a preservação da biodiversidade, dos ecossistemas, da natureza.

1 COMENTÁRIO

  1. Desconhecia . . . Lembrou-me do segredo que, ABEL PEREIRA DA FONSECA, tinha para revelar aos filhos quando estava á da morte : “DAS UVAS TAMBEM SE FAZ VINHO”… Obrigado 1 abraço

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