É uma espécie de relíquia não religiosa, apesar de estar guardada numa igreja da cidade do Porto. O coração do rei D. Pedro IV está preservado em formol, num frasco de vidro, há 200 anos. Foi por vontade expressa do monarca que o coração foi separado do resto do corpo e guardado. O corpo foi enviado para o Brasil, está embalsamado na cripta do Monumento á Independência, na cidade de S. Paulo.
Estamos a falar de uma época em que os reis tudo podiam e os seus desejos eram considerados ordens. E este era um rei liberal, digamos. Foi, aliás, intérprete da guerra civil que dividiu o país entre as fações absolutistas e liberais. Do outro lado da barricada estavam os absolutistas, liderados por Miguel, irmão de D. Pedro.
Uma zanga de família que dividiu o país e motivou uma guerra que durou anos e custou a vida a muita gente.
Quando percebeu que ia morrer, vítima de tuberculose, o rei decidiu doar o seu coração à cidade do Porto e o resto do corpo ao Brasil, colónia que lhe deve a independência. Foi D. Pedro quem deu o famoso “grito do Ipiranga” – Liberdade ou Morte! – que serviu de mote à independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822.
Agora que os nossos irmãos do lado de lá do Atlântico estão a comemorar os 200 anos da independência, o coração de D. Pedro vai reunir-se ao resto do corpo. Viaja na próxima semana para o Brasil. Uma cena estranha, mas enfim.
Em Portugal há quem torça o nariz à viagem. É que a relíquia vai, mas tem de voltar. Intacta. Não deixem cair o frasco!
Boa sugestão: não deixem cair o frasco!