Quando a Amnistia Internacional condenou, pela primeira vez, as táticas militares ucranianas que colocam civis em perigo “ao estabelecerem bases militares e sistemas operacionais de armamento em áreas residenciais, incluindo escolas e hospitais”, táticas que “violam o Direito Internacional Humanitário, já que transformam os edifícios civis em alvos militares”, levantou-se um coro de protestos de militantes da causa ucraniana na guerra contra a Rússia.
Mas, a verdade é que a Amnistia Internacional demorou 5 meses para denunciar aquilo que todos vemos desde os primeiros dias da guerra. Não há santos neste campo de batalha, como de resto nunca houve em nenhum.
Um dia destes, pode ser que a Amnistia Internacional olhe para o que se passa nos territórios controlados pelas forças separatistas russófonas, nomeadamente nas cidades. Também ali caem mísseis e outros engenhos explosivos, lançados pela artilharia do inimigo, neste caso, a artilharia ucraniana. Também ali morrem crianças, velhos e mulheres, civis não combatentes. Também ali as pessoas só querem viver em paz. Também elas não têm culpa das decisões paridas pelos líderes políticos.
Na noite de 6 de agosto, o relato do jornalista português Bruno Amaral de Carvalho, na rede social Telegram, repetia o tema das noites anteriores: os bombardeamentos ucranianos sobre centros urbanos.
“Clarões sucessivos no bairro de Kalininsky, há minutos, em Donetsk. É mais uma noite de muita tensão na maior das cidades do Donbass. Há bombardeamentos também nos bairros de Kievsky, Voroshilovsky, Petrovsky e Kirovsky.” – Bruno Amaral de Carvalho
Quem critica a Amnistia Internacional por causa desta denúncia sobre as táticas militares ucranianas, não conhece a organização nem se preocuparam em conhecer. Por exemplo hoje, quem for ao site da Amnistia Internacional Portugal vê, na primeira página, várias petições sobre questões relacionadas com perseguições e atentados à liberdade de várias personalidades de diferentes países, desde a Turquia, Irão, Zimbabué, Israel, Ucrânia, entre outros. E pode ficar a conhecer as ações que, neste momento, estão em marcha promovidas pela Amnistia Internacional.
Ou seja, não é possível querer condenar a Rússia, se desculpamos a outros crimes idênticos. Uma criança de Lugansk não é menos vítima nem tem menos direitos, só porque está no “lado de lá” da guerra.