Na batelada de jornalistas, repórteres e enviados das televisões portuguesas às bordas da guerra, há gente muito respeitável. Mas não é desses que aqui venho falar.
Depois, há dois ou três que nos mexem com os nervos, combatem a inteligência e perturbam a percepção do conflito.
Do Penim já não vale a pena falar. O RAP encarregou-se, em tempo, do golpe de parricídio.
Mas, por exemplo, é incontornável falar do irritante José Rodrigues dos Santos que achou que a Ucrânia seria um bom palanque para ir para a rua fazer um pouco de storytelling. Nada de jornalismo, só storytelling. Outros lugares, com menor carga de melodrama e menos exposição pessoal, não lhe teriam feito valer a pena levantar o rabiosk da cadeira .
Uma guerra mundial é chata. Mas torna-se insuportavelmente incomodativa se for comentada pelo José Milhazes. O Milhazes sabe tanto de Rússia e União Soviética como eu sei de Avenidas Novas. Ambos andámos por lá, à noite. Eu podia ir à televisão falar durante horas sobre o Quarteto e o Vá-vá. Sem despeito. O Milhazes não, fala com o asco do que lhe ficou atravessado, no goto. E fá-lo com aquele ar de polvo-voador e voz de falsete que me deixa a imaginar que posso apenas estar a ver o “quem quer casar com o agricultor da guerra”.
Milhazes, o escritor, também o jornalista, começa a resposta numa entrevista de televisão com a expressão “ora, nem mais!”, depois de ter começado a resposta anterior com um “ora aí está!”… tantos séculos depois de na Mesopotâmia terem inventado o “media training”, Milhazes ainda aqui vai.
Para mim, o zé-milhazismo é uma ideologia czarevich desprezível. Ponto.
Nos horrores da necrofagia da guerra pode aparecer sempre mais alguém. Chegou entretanto o expectável Pedro Abrunhosa, esse repentista da lucubração. Diz que levou apenas duas horas a fazer aquilo que nunca conseguiu deixar de fazer, poesia épica do estilo “se eu fosse um dia o respirar, e tu perfume de ninguém…” Ele aí está agora, deslumbrado, encandeado com o brilho da solidariedade.
Parece que a TVI abriu o noticiário, hoje, com um cintilante “nariz de cera”. Uma tal pivô da televisão ucraniana, agora entre nós, começou o jornal com duas frases em língua própria para depois entregar à pivot portuguesa, residente, que logo explicou “vejam como esta pivô da televisão ucraniana, agora entre nós, começou o jornal em língua ucraniana…”
Que me perdoem os visados. Valor informativo, nenhum. Mas está aberto o espectáculo da guerra.
(crónica publicada também no Facebook de João Salvado)
O Santos não passa de um ordinário Palma Cavalão, já o Milhazes é da escola Otto Dietrich. portanto não temos jornalismo a sério mas sim plumitivos televisivos !