Chegou ao fim mais uma edição do programa The Voice Portugal. Mais um grande vencedor, muitos aplausos e risos, confettis a cair. O programa é bem produzido, tem muitos ingredientes cativantes e alguns irritantes, também. O pior deles é o “vote, vote, vote”, num apelo insistente para as chamadas de custo acrescentado, receita que deve suplantar a da publicidade.

É um concurso, uma competição. E se há um vencedor há centenas de perdedores que são quem verdadeiramente faz o programa. Potenciais artistas que, em muitos casos, apenas por circunstancialismos fortuitos não caíram na graça dos deuses. E ficaram resumidos aos sonhos desfeitos, às frustrações, às desilusões, com um caminho ainda mais incerto.
Estava a ver o programa e a lembrar-me de uma peça de teatro que vi há tempos, na sala do Centro de Artes de Lisboa. Uma peça escrita por um grupo de jovens atores, saídos da Escola Profissional de Teatro de Cascais. Um retrato sobre a instabilidade e a incerteza, entre a permanência e a desistência, e os “cadáveres” da arte e do talento que ficam pelo caminho da precariedade. Uma das cenas tem tudo a ver com este tipo de programas televisivos…