Deixaram uma mulher morrer na prisão, em profunda agonia

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Morrer numa prisão portuguesa por falta de tratamento médico não devia ser possível. Mas parece que acontece. O que se passou com a morte de Susan Clarke indicia negligência na assistência médica no sistema prisional português.

Susan Clarke estava condenada a oito anos de prisão. Detida em dezembro de 2018, julgada e condenada no início de 2019, morreu dois anos depois.

As notícias sobre a morte desta senhora, reclusa no Hospital Prisional S. João de Deus, em Caxias, falam de cancro na mama como causa da morte. Mas testemunhas afirmam que Susan Clarke terá morrido de um cancro na garganta que nunca foi tratado.

recorte de notícia do Correio da Manhã de 17 de outubro de 2021

A detida recebia tratamento para o cancro da mama, mas nunca foi atendida pelas queixas que apresentava relativamente a dores na garganta e rouquidão crónica.

Quanto ao cancro da mama, Susan Clarke foi operada em junho de 2020, 10 meses depois de ter sido detetado o nódulo. A remoção do tumor correu bem, os médicos consideraram que ela teria de fazer algumas sessões de radioterapia mas que não era necessário realizar quimioterapia.

Quanto ao cancro na garganta, perante o agravamento da rouquidão e da dificuldade em deglutir e falar, uma biópsia realizada em outubro de 2020 revelou um cancro em fase adiantada.

Depois, aconteceram surtos de covid-19 nas cadeias, nomeadamente em Tires, onde Susan Clarke estava inicialmente a cumprir pena. Transferida para Caxias, onde prosseguiu intermitentemente os tratamentos para consolidar a cura do cancro da mama, nunca recebeu qualquer tratamento para o cancro na garganta.

Apesar do agravamento do estado de saúde da detida, os serviços clínicos prisionais parece não terem reagido, segundo informações divulgadas pela APAR, Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso. Susan Clarke morreu em outubro de 2021. Dizem que agonizou de modo atroz nos últimos meses de vida, sem paliativos para as dores que o cancro lhe provocava.

O testemunho que recebemos é contundente: “durante algumas das visitas que o marido foi autorizado a fazer ao hospital prisional, encontrava-a cada vez mais em pior estado e era-lhe sempre dito que ela estava em estado crítico, mas inconclusivo. No entanto, mais nenhum tratamento lhe foi feito e a única coisa que lhe era administrada era a medicação para aliviar as dores, mas que, no entanto, já não surtia muito efeito.”

Susan Clarke morreu no dia 9 de outubro de 2021. Em Portugal não há sentenças de pena de morte. Mas, às vezes, funciona como tal.

Susan Clarke morreu aos 72 anos numa prisão portuguesa

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