Para quê greves, se temos a caridadezinha?

António Saraiva, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), apelidado de “patrão dos patrões” foi durante anos um mero assalariado. Mais do que isso, fez parte de uma comissão de trabalhadores da Lisnave em 1982. Foi parceiro de Elisa Damião, que também usou o sindicalismo para se lançar noutros voos que a levaram a ser eleita deputada e eurodeputada pelo PS. Saraiva ficou por cá, chegou a presidente da CIP em 2010 depois de ter ganho a confiança dos grandes capitalistas portugueses.

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Dizem as más línguas que quando Saraiva fala se ouvem as vozes de quem manda nele. Mesmo que isso tenha sido verdade alguma vez, depois de tanto falar em nome da CIP e na defesa dos interesses do patronato, agora já é ele a falar. Saraiva, o patrão.

Aqui há dias falou para o Jornal i. Já demos conta disso aqui neste site. Mas foi uma entrevista tão longa que dá pano para mangas em termos de comentário. E hoje vamos comentar como um tipo que nasceu numa família pobre, que abandonou a miséria salazarenta da aldeia onde morria de fome para vir para Lisboa, que começou a trabalhar aos 17 anos, consegue hoje negar um pequeno aumento ao Salário Mínimo Nacional.

recorte da entrevista de António Saraiva ao Jornal i

Esquece-se Saraiva de dizer que as decisões do Governo derivam de um caderno de promessas eleitorais. Ou seja, as promessas são para serem cumpridas e a mentira política não deixa de ser mentira. Mas o “patrão dos patrões” acha que as questões salariais são um exagero sindical.

recorte da entrevista de António Saraiva ao Jornal i

Sim, para que raio há de um trabalhador por conta de outrem querer um salário para viver com dignidade? Para António Saraiva trata-se de uma falsa questão, até porque as empresas preocupam-se com o bem-estar dos “colaboradores” como eles gostam de dizer… Deixá-los morrer de fome parece estar absolutamente fora de questão.

recorte da entrevista de António Saraiva ao Jornal i

Aqui está um retrato do que é a relação laboral ideal para António Saraiva e o patronato português: o operário de boina na mão e pedir uma esmola ao patrão, porque o salário não lhe chega para pôr pão na mesa. Para quê chatices, conflitos laborais, greves, se a caridadezinha podia ser a solução…?

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