A inqualificável arte de não informar

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Quando ontem liguei a televisão, havia a prisão de João Rendeiro em todos os canais. Repescaram-se reportagens, que já estávamos cansados de ver. Na verdade, sobre Rendeiro e a sua prisão, não haveria muito a contar: como foi apanhado, o hotel de luxo onde se encontrava e a viagem que fez, ponto final.

Houve conferências de imprensa, entrevistas ao director da Polícia Judiciária, palavras de todos os políticos… E, de todas as vezes que ligava a televisão, lá estavam o Rendeiro e a mulher a invadirem a minha sala.

Até se perdeu o sentido da dignidade, mesmo dos que estão condenados. Rendeiro aparece de pijama e, como se fosse uma informação importante, ainda dizem que o deixaram fazer a barba… Como se o facto de ter sido preso lhe retirasse o sentido de humanidade e pudesse ser mostrado de qualquer maneira.

Foi importante prendê-lo? Certamente que foi. Merecia tanto destaque? Tenho todas as dúvidas. Mas tenho a certeza de que, depois de ter sido massacrado de uma forma absolutamente inqualificável, o ex-ministro Eduardo Cabrita deve ter agradecido.

Durante muito tempo, o antigo ministro da Administração Interna foi sujeito a um verdadeiro assassinato político e pessoal por um acto que se cria ser da responsabilidade do seu motorista e que agora, tanto quanto li, afinal foi da vítima. Estou a defender Eduardo Cabrita? Não!!! Não o conheço de parte nenhuma! Mas cansei-me de o ver a toda a hora, sem que alguma informação fosse, de facto, notícia.

De repente, entra Rendeiro em destaque e Cabrita deixou de ser importante, bem como tudo o que havia de informação para dar sobre mil outras coisas.

Foi assim com o Covid, com o acidente de Sara Carreira e com tantas outras coisas que nos invadem a sala todos os dias. Esqueceu-se o que é a informação e privilegiou-se o espectáculo, como se as notícias passassem a ser telenovelas. Uma miséria!

À minha cabeça vem uma memória: Nobel da Paz de 2021 foi para os jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov, que lutam pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia, em «condições cada vez mais difíceis».

Pronto! E é isto!

(actualizado às 19.50)

3 COMENTÁRIOS

  1. É a dinamica da comunicação jornalistica na sua vertente de noticias. É normal. Ouvimos e depois vamos procurar os midia jornalisticos que analisam em comentam. O problema é estar agarrado apenas às tvs generalistas e desperdiçar sites que dão angulos da noticia e comentam e esmiuçam

    • camarada, a crónica é da Margarida Maria, mas sei que os teus elogios encaixam melhor nela do que em mim. Abraço e continua com o teu excelente trabalho no Cascais24.

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