A escola e os imigrantes

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Há tempos, fiz uma formação que me enriqueceu muito. Cada sessão era uma incursão pelo mundo das línguas e pelo tecido social português em mutação.Nessa altura, conheci o professor Rui Gomes, que dá aulas num agrupamento de escolas de São João da Madeira. Este município está a acolher uma grande quantidade de refugiados e migrantes, resultante de uma articulação entre a Câmara Municipal, a Cruz Vermelha e outras instituições locais.

Cada vez que o professor Rui Gomes falava, ganhávamos maior consciência da origem destas migrações, da componente linguística associada e da logística em marcha para acolher estas pessoas, nomeadamente ao nível da escola pública. Este professor estava – e está – a dar PLMN /Português para Estrangeiros. Disse que muitos destes imigrantes são jovens, maioritariamente, mas com histórias de vida já muito intensas. Que gostam de ser apreciados e valorizam o acolhimento dado. Que são de países tão díspares como Vietname, Síria, Iraque, China, região do Magrebe, Turquia, Filipinas, Venezuela e até da região do Curdistão (detesto escrever isto com C quando há um K no alfabeto). E que se estava à espera de mais afegãos, tendo em conta os desenvolvimentos na “nova” era talibã.

A realidade das escolas portuguesas não é a mesma de antes. Desde a chegada e entrada de ucranianos, sobretudo, que a escola não se renovara com políticas educativas que reflitam a componente étnica que cada vez mais se vai configurando em Portugal. O desafio é não só providenciar aulas da língua oficial portuguesa, por razões de comunicação, como também não penalizar os novos alunos com avaliações injustas quer a nível linguístico quer cultural. Desta forma, a grande aposta futura deverá ser a revisão de currículos que possam ser mais inclusivos e potenciadores de valores como a tolerância. O conhecimento cultural do país que acolhe e dos países de origem destes migrantes é fundamental para eliminar barreiras e preconceitos.

Cada vez que o professor Rui Gomes falava, o nosso enriquecimento era uma realidade. No último dia, a tarefa foi construir um teatro de papel em português mas que incluísse as línguas que faziam parte do nosso dia a dia enquanto docentes. No meu caso, professora de inglês, tanto ouço português como espanhol nos intervalos. Em doses cada vez mais similares. No dele, as línguas que incluiu foram muitas, estranhas, difíceis, apelativas, diversas. Vi-me aflita para entender tudo na sua história, narrada por ele com muito entusiasmo.

O Portugal de cariz rural, atávico, nacionalista e uniforme está a desaparecer, mesmo nas localidades do interior. Se a capital é cosmopolita desde há muito e esse é um dos seus grandes atrativos, as escolas da província estão também mais plurilingues. Só temos a ganhar com tudo isto.

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