A meio de outubro, Nuno Melo exaltava-se porque ainda não tinha havido nenhum debate entre ele e Francisco Rodrigues dos Santos. Até então, ainda nenhum órgão de comunicação social tinha demonstrado vontade de promover um debate sobre a luta interna pelo poder no CDS.
Mal sabia ele que não ia haver mesmo nenhum debate. O jovem Chicão (alcunha do tempo da escola de Francisco Rodrigues dos Santos) encontrou maneira de adiar as eleições para a liderança do partido, a pretexto da crise política e das eleições antecipadas. O adiamento faz com que Nuno Melo não tenha a mínima hipótese de vir a liderar o partido em tempo útil. Ou seja, a tempo de escolher os candidatos a deputados, a tempo de negociar com o PSD eventuais lugares ministeriais num Governo de coligação. Nuno Melo precisa de ganhar o partido para depois ter alguma força negocial. Sem eleições internas, vai tudo por água abaixo. Sem eleições internas, Francisco Rodrigues dos Santos continua a mandar num partido que muitos dizem já não existir. Não deve ser bem assim, ou não estariam todos muito zangados com a habilidade do Chicão.
As eleições estavam aprazadas para o final de novembro. As más línguas dizem que Chicão desconfiava que iria perder a liderança do partido e, assim, perderia a oportunidade de vir a ser deputado ou, talvez, ministro. E avançou com o adiamento numa reunião do Conselho Nacional do partido que já tinha sido previamente impugnada pelo Conselho de Jurisdição. Impugnação que não foi acatada. Chicão revelou-se Chico-esperto.
Cartoon de Hélder Dias.
