Mais de 6500 trabalhadores migrantes morreram nas obras do Qatar para o Mundial 2022. A Amnistia Internacional diz que se trata de uma “forma moderna de escravatura”, mas o Governo qatari diz que número de mortes é normal e a FIFA também considera 6500 mortes um número baixo…
O Qatar tem sido palco de grandes eventos desportivos. O Governo do país, uma monarquia absolutista, uma ditadura, decidiu investir na sua própria promoção e imagem através do desporto internacional, eventos que são sempre transmitidos pelas televisões de todo o Mundo e que chamam bastante a atenção da população.
A organização deste tipo de eventos obriga à adaptação ou construção de raiz de muitas infraestruturas. O Qatar tem feito investimentos megamilionários nessas construções. Não só os materiais têm de ser todos importados, também a mão-de-obra sai de todo o Mundo para convergir ali.
O Qatar passa por ser um país muito rico, mas não é por isso que trata melhor os trabalhadores migrantes que constroem os estádios e os arranha-céus com que o resto do Mundo se tem embasbacado.
As acusações de graves violações dos direitos humanos desses trabalhadores existem há anos. Quando a FIFA em 2015 decidiu entregar ao Qatar a realização do Mundial de Futebol de 2022, as condições de escravatura a que os imigrantes estão sujeitos foram motivo para muitos protestos, como eu próprio reportei, na altura, ao serviço de um canal de televisão de Angola.
Não é a primeira vez que a FIFA aceita sedear um grande evento neste país. É a força dos petrodólares a mandar, não tenhamos dúvidas. Foi no Qatar que se realizou o Campeonato do Mundo de Clubes de 2020, quando venceu o Bayern Munique.
Além da FIFA, outros organismos do desporto internacional têm aceite realizar eventos no Qatar. Foi lá que se realizou o Campeonato do Mundo de Atletismo, em 2019. O Grande Prémio de Moto GP do Qatar faz parte do calendário internacional. Enfim, há muitos exemplos, desde competições internacionais de voleibol ao ténis que se realizam num país onde raramente as temperaturas baixam dos 35 graus centígrados à sombra. Ou seja, onde as condições para a prática desportiva não são as ideais e as provas têm de se disputar de manhã bem cedo ou até mesmo durante a noite.
Se pensarmos que as maiores audiências televisivas de eventos desportivos estão na Europa e na América, e que devido aos fusos horários essas transmissões em direto chegam de madrugada a casa das pessoas, escasseiam as razões para que o Qatar seja escolhido com tanta frequência para a realização desses eventos. Isto é, se excluirmos o peso do dinheiro, é claro.
E da escravatura não se fala.