Descoberto tunel no Palácio da Ajuda

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fotografia de Anabela Natário

Abriram um buraco no meio do pátio interior do Palácio da Ajuda e destaparam um túnel que não se sabe de onde vem nem para onde vai. É certo que quando o Palácio começou a ser construído, já lá vão 226 anos, desenharam um projeto de arquitetura, mas quem consulta hoje esse documento? É uma questão retórica porque todos sabemos bem qual a resposta.

Por JOSÉ DA COSTA E SILVA – JORNAL DA ASSOCIAÇÃO DOS ARQUITECTOS CIVIS PORTUGUESES, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2766338

Quando um pedreiro abre um buraco no meio de um pátio de um edifício histórico, devia estar acompanhado por um arqueólogo. Alguém que saiba ler os sinais transmitidos pela alvenaria que a picareta parte ou pelas pedras que se soltam. Alguém que pudesse ter dito “alto!” a tempo e impedido que o teto do túnel fosse partido.

Lisboa tem muitos palácios e na maioria deles existem tuneis. No tempo do Marquês de Pombal foram construídos muitos desses tuneis, destinavam-se a servir de caminho para a água que chegava à cidade pelo aqueduto e ficava armazenada em tanques. Os tuneis eram um privilégio de reis, condes e marqueses que, assim, tinham distribuição de água nos domicílios e não precisavam de mandar os criados buscar água às fontes.

fotografia de um dos muitos tuneis existentes em Lisboa que serviam para fornecer água a residências de nobres.

O Palácio da Ajuda foi construído 40 anos depois do terramoto de 1755 e certamente foi equipado com tuneis por onde chegava a água que se consumia ali.

É possível que o túnel agora destapado no Palácio da Ajuda não passe de uma antiga levada para a água. Mas não precisava de ter sido escavacado.

fotografia de Anabela Natário

9 COMENTÁRIOS

  1. Que há imensos túneis secretos que ligam o palácio da Ajuda a diversos pontos da Ajuda e Belém não é segredo nenhum.
    Há um mapa com os túneis. Infelizmente vão ser destruídos quando o condomínio de luxo avançar, assim como estátuas, lagos com fontes e escadarias do jardim do palácio que estão soterrados. Tudo isto com a aprovação da cml que vendeu os terrenos por um terço do seu valor.
    Eu acho que os túneis da Ajuda deviam ser património nacional.
    Não percebo como é que um jornalista escreve um artigo num jornal sem fazer um bocadinho de investigação.

    • A notícia é o buraco que destapou o túnel. Não pode pretender que toda a gente saiba aquilo que a senhora sabe. Para a grande maioria das pessoas, a existência de túneis seja lá onde for é uma surpresa, pela simples razão de que não estão à vista e não são publicitados. Gostava que me enviasse por email dados relativos a essa venda por 1/3 do valor. O email é jornalduaslinhas@gmail.com

      • Eu sou mais inteligente do que Tu. Eu estou mais documentado que Tu. Eu sei o que Tu não sabes . Não digas asneiras . É isto que eu digo . . . e mais nada ! Não te metas comigo !
        É assim a discussão ou o esclarecimento , no nosso país . Depois tudo desce de nível e de clareza . Na verdade estamos cheios de especialistas e continuamos sem esclarecimentos e o pior é . . . cheios de rivalidades vãs .

  2. Já ando a escrever sobre isto há mais de um ano, até tenho o mapa dos túneis que vão ser destruídos com o condomínio “João Soares”, pois foi ele que desclassificou os terrenos para vender por 1/5 do valor. Esta falar com moradores ais idosos da Ajuda que todos sabem dos túneis e alguns até já andaram lá dentro. Este túnel da entrada não é novidade, e há muito mais entradas, sei de várias. Adorava ver alguém a pegar neste tema com unhas e dentes.

  3. Eu andei nesses túneis quando era puto. Entrámos junto ao palácio e havia dois caminhos, um para sul e outro para norte! Exploramos o que ia para norte. Esse atravessa o palácio todo até ao outro lado, que está fechado, e sai por uma porta redonda gradeada. Foi uma grande aventura durante semanas até sermos apanhados pela GNR que patrulhava o palácio na altura. Isto foi em 82/83….depois taparam o buraco. O túnel que seguia para baixo, para o rio, era muito inclinado e achamos melhor não arriscar….

  4. Os meus avós, ele Harold Edwin Mascarenhas, (meio inglês, meio irlandês) e ela D. Eugénia Francisca Xavier Telles da Gama, portuguesíssima, viviam num belo casarão na R. S. Domingos à Lapa. Umas dezenas de metros mais acima, havia a Embaixada Inglesa. Ela católica, ele anglicano, nem isso lhes estragou um longo e feliz casamento com quatro filhos. Eram completamente Anglófilos, aliás toda a família era. E veio a Guerra. Inclusivamente a filha mais velha, a minha tia e madrinha Mary, que ficou viúva com dois filhos pequenos e por isso regressou a casa dos pais com os meus primos António e João, tinha um curso de enfermagem, que tirou para tratar do marido. Com a guerra ela tomou caminho ao serviço da Cruz Vermelha, e viveu largos meses escondida no metro de Londres, a tratar dos inúmeros feridos dos bombardeamentos. Ora conta-se que entre a casa dos meus avós e a Embaixada Inglesa (que nessa altura era mesmo ali, muito perto) foi escavado um túnel que ligava as duas casas.
    Esse túnel (que eu nunca vi) terá tido uma enorme utilidade ao serviço dos Serviços Secretos ingleses, que assim escapavam aos Alemães, trazendo e levando mensagens que certamente terão tido alguma utilidade na Vitória dos Aliados.
    Esse túnel, que eu penso que ninguém sabe ao certo onde ficava (eu aposto no jardim, nem sei bem porquê), nem ninguém sabe de certeza se realmente existiu, é talvez apenas uma lenda, mas a mim sabe-me bem acreditar que a minha família de alguma forma ajudou um pouco no esforço de guerra. A bem de todos nós.
    Já agora, com um pouco de vaidade, confesso, também do lado da minha mãe, o meu avô Luís Vaz Spencer era oficial de Marinha. Era o Senhor Comandante. Já quase no fim da guerra, por duas vezes comandou navios da Cruz Vermelha e levou não sei quantas pessoas (refugiados judeus e não só) para a América. Com os submarinos alemães lá em baixo, à caça…
    Parece que na Embaixada ficaram contentes e gratos com este serviço prestado. É saboroso para o coração saber que a minha família esteve do lado certo da história.
    Um abraço a todos os que me lerem. Sejam judeus ou qualquer outra coisa.
    Já agora, e só por graça, há quem afirme que ali para S. Bento existe outro túnel que serviria para a Amália ir dormir com o Salazar. Eu nisto não acredito. Só se vir. Esta foi mesmo só por graça.

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