Agricultura intensiva: dinheiro, desperdício e venenos

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O crescimento a perder de vista de estufas plastificadas no litoral alentejano já foi discutido na Assembleia da República, mas nada mudou a favor da proteção ambiental, da paisagem protegida e do bem-estar das populações locais.

O ministro do Ambiente disse, na altura, que o ordenamento que existe foi aprovado em 2019 e que ele limita-se a cumprir e a fazer cumprir a Lei. O ministro Matos Fernandes disse mesmo que pouco pode fazer por se tratar de “uma área produtiva”. Ou seja, a preocupação centra-se na economia e não no ambiente. Quando, um dia, a destruição ambiental tornar impossível continuar a produzir, o que irá então dizer o ministro?

E o ponto de rutura pode não estar longe, no tempo. A associação ambientalista Zero veio, agora, dizer que o Rio Mira está a secar e que os fertilizantes usados na agricultura intensiva estão a poluir os solos, o ar  e as reservas subterrâneas de água.

Em comunicado, a associação cita o Instituto Nacional de Estatística para afirmar que as quantidades de azoto e fósforo que são colocadas na terra “são quase o dobro do que é extraído pelas culturas”, pelo que o excedente que fica no solo “poderá continuar a ser uma fonte de contaminação difusa para o solo e para as massas de água superficiais e subterrâneas”. Além disso, “a aplicação excessiva de fertilizantes azotados está associada a emissões de amoníaco e óxido nitroso”, gases com efeito de estufa muitíssimo superior ao dióxido de carbono.

A associação considera que o país podia fazer uma “modernização sustentável da produção alimentar”, com uma política que procurasse a eliminação progressiva dos riscos de excesso de nutrientes e a dependência de fertilizantes minerais, e eliminasse os apoios para a industrialização da agricultura e do espaço rural.

Mas o que está a acontecer é precisamente o contrário. A área de estufas ocupa atualmente 1545 hectares no perímetro de rega do Mira, nos concelhos de Odemira e Aljezur, segundo dados do Ministério da Agricultura. Isto é cerca de 13% do dito perímetro, o que significa que ainda pode efetivamente triplicar, chegando a um total de 4800 hectares (uma vez que o perímetro de rega tem 12.000 hectares) segundo a Lei de 2019.

Segundo denúncias que surgem amiúde nas redes sociais, a excessiva produção da agricultura intensiva, além de poluição, provoca desperdício. Ou seja, as unidades agroindustriais não se importam de hipotecar o futuro de uma região mas não descuram a margem de lucro de hoje.

desperdício agrícola em unidade agroindustrial do litoral alentejano

Luís Rocha é o exemplo do ambientalista incansável que diariamente publica nas redes sociais um alerta, uma sugestão, uma indignação, um sobressalto. As fotos partilhamos a partir do Facebook dele, assim como são dele as seguintes palavras: “Estamos a falar de um processo de fabricação de dinheiro, com calibragem, aspeto e marketing que só quem é parvo é que pode chamar de agricultura. Este sorvedouro da nossa água, que nos conspurca o ambiente com milhares de toneladas de produtos químicos, mata as espécies endémicas, inquina os nossos lençóis freáticos e explora e incita à exploração de cidadãos estrangeiros, e destrói o nosso tecido social e economia local, tem tanto respeito por nós e pela nossa terra, como tem pelos milhares de toneladas de vegetais com menos um milímetro que deita fora.”

Um redemoinho de palavras e de exaltação que continua assim: “Temos escolas, centros de dia, gente carenciada, lares de idosos e toda uma panóplia de soluções, para onde toda esta comida poderia ser enviada, se estivéssemos a falar de gente com o mínimo de preocupação pela sociedade onde está inserida. Se estivéssemos a falar de gente. Mas não estamos.”

E não estamos, mesmo.

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