Por José Ramos e Ramos
Christopher Donahue foi o último soldado americano a deixar Cabul. A 31 agosto.
Nesse dia, entrou a jornalista Anelise Borges, de 37 anos, ao volante de um carro velho, pela estrada empoeirada Cabul-Paquistão.
Anelise já filmou duas manifestações de mulheres em Cabul. Não existe nada mais arriscado. Pior foi ter perguntado ao porta-voz dos taliban, em entrevista filmada olhos nos olhos, por que razão as mulheres não iam fazer parte do futuro governo do Afeganistão.
Anda no meio dos tiroteios
A EuroNews recusou-se a deixar partir Anelise para o Afeganistão. Porque se sabia que alguns jornalistas ocidentais estavam barricados num hotel em Cabul.
Já vimos Analise à porta de um banco a explicar que os afegãos não conseguem levantar o dinheiro necessário para viver. E também a vimos no meio de tiros e ameaças de soldados talibãs.
É extraordinário ver aqueles homens: secos, barbudos, esfarrapados e Indomáveis frente a frente com Aneliese Borges. A olharem muito sérios para ela: frágil, magra, baixa, bonita e expressiva. Directa nas perguntas e muito clara nos relatos.
Jornalista corre perigo de vida
Anelise Borges trabalha habitualmente sozinha. É adepta dos jornalismo digital. Neste caso tem o auxílio de um repórter da imagem. Ambos usam apenas telemóveis. A qualidade das suas reportagens é extraordinária.
O governo talibã já proibiu reportagens sobre manifestações não autorizadas. E Anelise tem pisado o risco. Está a tornar-se num quebra-cabeças para os talibãs.
A jornalista brasileira tem criado situações difíceis. O seu repórter de imagem já foi preso, agredido e libertado. Anelise já foi avisada que corre perigo de vida, porque pode ser alvo de uma inesperada agressão.
O sítio mais perigoso do mundo
Ela está a pôr à prova a capacidade de diálogo do governo talibã com as mulheres afegãs, com oposição ofegante e com a comunidade internacional. É o melhor teste que os americanos poderiam desejar. Estará a ser ajudada pelos EUA e pelos talibãs, ao mesmo tempo?
Chegou no velho carro a Cabul. Foi de imediato ao Ministério da Informação pedir um visto de trabalho, como jornalista. E pronto! “Foi surreal” diz ela.
É tudo muito estranho, todas as teorias são possíveis.
Quem é esta mulher bela e frágil que está mergulhada no sítio mais perigoso do mundo?