Há muitas lendas de potes com ouro. Mas este teria pertencido ao bispo Lidefonso mencionado em algumas inscrições em São Miguel de Odrinhas, perto de Sintra. Estávamos por volta do ano 700 depois de Cristo. Cerca de 14 anos depois, a península ibérica era invadida por povos árabes.
Perdeu-se o pote cuja origem se desconhecia, mas o assunto foi sempre murmurado. A história do tesouro arrastou-se até Dom Afonso Henriques fazer o cerco a Lisboa, narrado por um cruzado inglês, na Carta de Osberno.
Afonso Henriques passou Lisboa a fio de espada
Nessa altura, árabes, berberes, judeus e cristãos viviam em razoável harmonia até chegar Dom Afonso Henriques. A cidade foi então passada a fio de espada. Terão sido chacinados milhares de habitantes.
Para o novo rei o pote de ouro era a tomada de Lisboa.
Mas a lenda não morreu, porque o povo sempre gostou de Euromilhões. E assim, há poucos anos, o meu avô ainda falava no tal pote. Disse-me que lhe tinham dito que estava na fundações da Igreja dos Italianos (de 1518), na parede da muralha Fernandina. Já por ali se fizeram muitas obras, mas nunca se achou qualquer pote.
O pote de ouro tornou-se real
Se ele fosse vivo, levaria agora o meu avô à rua da Misericórdia. Começávamos pelo pedaço da muralha, em cima do qual está o antigo centro comercial Grão Pará. E acabávamos num grande pedaço, perto do Cais do Sodré, onde Siza Vieira meteu em cima um edifício modernaço, coberto de azulejos toscos, que nunca utilizaríamos em lado nenhum.
Ele havia de sorrir, por ter razão. Afinal o pote de ouro foi descoberto por certas pessoas que nos comem as papas na cabeça. É uma sorte o Mosteiro dos Jerónimos ser tão alto.