O movimento pela legalização do consumo desta planta com propriedades psicotrópicas tem vindo a crescer e já abarca militâncias insuspeitas. Enfim, talvez a perspetiva de que tudo isto vai ser um grande negócio tenha animado algumas dessas figuras, entre eles antigos ministros de diferentes governos. É realmente um pouco estranho que pessoas como, por exemplo, Laborinho Lúcio ou Paula Teixeira da Cruz (antigos ministros da Justiça de governos PSD) estejam agora a alinhar na institucionalização do consumo das chamadas drogas leves. Alguma vez fumaram uma ganza? É possível que sim, embora nunca tenham declarado infrações à Lei desse teor.
Mas esses dois antigos ministros fazem parte de uma extensa lista de notáveis que assinaram uma carta aberta dirigida à Assembleia da República, onde argumentam razões para se legislar a favor da despenalização e enquadramento legal do consumo de canábis. Em resumo, a regulação “deve servir para defender a saúde e combater a criminalidade”, que isso faça com que “o consumo migre do mercado ilícito para o mercado controlado”, a Lei deve definir a idade mínima de consumo, o teor máximo de toxicidade dos produtos, definir regras para cultivo e produção, instituir fiscalização rodoviária apropriada e informação aos consumidores sobre riscos de dependência e alternativas para o tratamento. Tal qual se faz com o vinho.
Mas não se julgue que isto vai permitir plantações não autorizadas, vasos de canábis na sala de estar, jardins privados ornamentados com a icónica planta. Tudo será proibido em nome do princípio do combate ao mercado ilícito, “eliminando progressivamente o mercado ilegal de canábis e o crime económico-financeiro”. Ou seja, só pessoas ou organizações devidamente autorizadas poderão cultivar a planta e produzir a substância. Isso permitirá a recolha fácil de impostos. No final da conversa é mesmo o que mais importa.
Diferentes formas de consumo
A Cannabis sativa (nome científico) é uma planta originária da Ásia e da América do Sul, pode ser usada para a produção de estupefacientes sob três formas distintas: “erva”, haxixe e óleo de haxixe.
A “erva”, formada por folhas e flores secas da planta, tem um efeito alucinogénico suave. Também lhe chamam marijuana, liamba ou maconha, consoante a zona geográfica. O consumo faz-se de um modo idêntico ao de um cigarro de tabaco ou cachimbo.
O haxixe é a resina obtida a partir das folhas e do caule, depois de prensada fica com uma consistência quebradiça. Normalmente é misturado com tabaco, num cigarro enrolado (charro) e fumado, mas também se pode comer, adicionado a alimentos.
O óleo da haxixe é produzido a partir da resina da planta, misturada com um solvente, que, após evaporação e filtragem, liberta um óleo espesso com cheiro a plantas podres. É consumido enrolado em mortalhas e fumado, geralmente misturado com tabaco.
O efeito mais imediato de um charro é a desinibição. As pessoas riem-se muito. A longo prazo e dependendo da frequência do consumo, podem surgir alucinações, alterações de humor exageradas e o desencadear de problemas mentais, em indivíduos com predisposição para tal. Tal e qual acontece com o consumo de alcóol.
Seja como for, o negócio tem pernas para andar e já está a andar. De repente, chovem artigos na imprensa evidenciando as propriedades medicinais da coisa. Dentro de pouco tempo, teremos programas de culinária na televisão dedicados a pratos confecionados com canábis. Nas estufas do litoral alentejano já se produz a planta.