Já não há cavalos selvagens. O que há são cavalos que vivem em liberdade, mas são poucos. Segundo divulgou a FAO – organização das Nações Unidas para a alimentação – existem apenas cerca de 600 mil cavalos em liberdade, que vivem na natureza sem dependência do homem. Os restantes 58 milhões de cavalos são animais aprisionados.
Segundo uma pesquisa realizada pelos espanhóis Jesús Gil Morión, membro da Sociedade de História Natural de Cádiz, e Juanjo Negro, investigador da Estação Biológica de Doñana, “todos os cavalos selvagens descendem de animais libertados ou fugitivos”. Segundo estes investigadores, “pensava-se que uma espécie de cavalo selvagem, o przewalski, que vive nas estepes da Mongólia, fosse genuinamente selvagem, mas um estudo genético mostrou que descendia de cavalos domesticados por um grupo étnico nativo da Rússia e do Cazaquistão há mais de 5.000 anos.”

O cavalo foi domesticado há cerca de 6.000 anos na Ásia Central e o ancestral selvagem foi extinto no século 19. O cavalos do qual descendem todos os cavalos domesticados é o extinto Equus Ferus Ferus (nome científico), um animal de pelagem castanha e crina curta e ereta como a das zebras, algo que as pinturas rupestres do Paleolítico refletem.
Sem Garranos não haverá lobos
Em Portugal, temos o cavalo de raça garrano, com algumas manadas a viver em liberdade no norte do país, nomeadamente no Parque Nacional da Peneda-Gerês. É um animal pequeno mas resistente às adversidades do clima e à dureza da vida nas montanhas.

O garrano é uma espécie de ex-libris, de símbolo da Peneda-Gerês. Fizeram dele um atrativo turístico. Há empresas de safaris fotográficos que vivem de levar turistas a ver os Garranos em liberdade.
Esta raça de cavalos selvagens existe desde tempos primitivos. A sua origem remonta a um pónei ibérico pré-histórico que se adaptou à geografia e ao clima das regiões montanhosas do norte da Península Ibérica. Está patente em pinturas rupestres da era paleolítica em Portugal.
Por exemplo, no Sudeste de Trás-os-Montes, junto à aldeia de Mazouco, há um conjunto de figuras do Paleolítico assentes em xisto, do qual se destaca o desenho de um cavalo de dimensões relativamente pequenas com cerca de 20 mil anos de existência, gravura a que se deu o nome de “Cavalo de Mazouco”.

O garrano foi classificado em 1994 como uma raça em perigo de extinção pela CEREOPA. Os garranos em liberdade são fundamentais para a manutenção do ecosistema, uma vez que este cavalo faz parte da dieta alimentar do lobo ibérico. Provavelmente, sem garranos não haverá lobos.