Um dia de manhã, quem vivia nesta casa olhou pela janela e viu os operários a chegar. Primeiro derrubaram as árvores e depois começaram a construir edifícios. E o homem olhou para os seus campos e em vez da seara começou a ver notas. Em vez do pão, viu cadeirão.
Os velhos já tinham morrido e os filhos já tinham partido, para viver na cidade, em apartamentos de segundo andar e duas assoalhadas. E ele também quis partir…
Estava cansado de se vergar à terra, de atrelar o boi ao arado. Era mais fácil pregar um letreiro a dizer vende-se e ficar à espera que alguém quisesse comprar.
Deixou de cuidar da casa, vendeu o boi, o cão morreu. Na porta da casa, a erva cresceu. Mas ele continuou à espera. Por todo o lado, a construção avançava, novas casas cada vez mais altas ocupavam terrenos agrícolas, a vez dele havia de chegar.
A casa era velha e pouco valia. Mas o chão era imenso, a autoestrada passa perto, na vila já havia supermercados, alguém havia de querer construir ali um bairro novo para a gente que trabalha na cidade. E o homem decidiu continuar à espera.
O tempo passou, a madeira apodreceu, o telhado caiu. Mas agora o homem já não tinha forças para reconstruir. Fechou a parte velha da casa e mudou-se para os anexos, acabados de construir mesmo antes de lhe ter nascido a ideia de ser um homem rico e sem terra.
Guardou os móveis que sobravam, salvou o fogão, deitava-se num colchão no chão e sonhava com os milhões que havia de ter no banco, quando a casa fosse vendida.
E o tempo passou e o comprador nunca chegou. Continuam a construir por todo o lado, mas ali ainda ninguém quis construir um belo bairro para aquela gente que trabalha na cidade.
Um dia hão de querer, mas quando isso acontecer já será tarde para o homem que queria ser rico mas sem terra. O dinheiro há de aproveitar a alguém, filhos, sobrinhos, enteados, há sempre alguém a quem o dinheiro aproveita.
Em frente à casa abandonada, já ninguém se admira com o mar de cereal bravio que ondula ao vento. É uma pena, porque não há espetáculo mais bonito e mais sereno.