João Galamba, secretário de Estado, classificou como “estrume” e “coisa asquerosa” o programa da RTP 1 “Sexta às 9”. Deu o “bruá” que se viu. Mas José Miguel Júdice chamou “palerma” ao ministro da Administração Interna, no seu comentário semanal na SicNot, e ninguém deu por ela.
Ora, “estrume”, todos sabemos, é o equivalente a merda. Já “palerma” é uma coisa difusa, da qual, em rigor, nem todos conhecem o significado exacto.
Dei corda aos dedos e comecei por consultar o “Priberam Dicionário”: “aquele que revela pouca inteligência, estúpido, idiota, imbecil, lerdo, papalvo, tolo, tonto; não tem iniciativa, determinação ou força de vontade; pamonha ou pateta”.
Nada como uma segunda consulta, agora aos dicionários da Porto Editora, via Infopédia: “Pessoa que se deixa facilmente enganar e prejudicar, pessoa que revela ingenuidade e falta de bom senso, pessoa que é pouco inteligente”.
Por via das dúvidas, uma terceira consulta ao significado da palavra “palerma”, desta vez ao Dicionário Informal: “burro, louco, pacóvio, estúpido, analfabeto, asno, besta, paspalhão, cretino”. São termos bem puxados.
Mas o que dizer, então, de José Miguel Júdice, que no mesmo comentário em que chamou “palerma” ao ministro, se prestou às seguintes pérolas: “… agora, de repente, o presidente da Câmara (Odemira) acordou e descobriu no seu território, uma coisa que não sabia que existia? Onde é que o vimos a fazer barulho nos jornais, a dizer que aquilo estava um horror?”; “Aliás, eu fui ver à internet, (o Zmar) é muito bonito”; “O Estado podia ter feito, olhe, um pavilhão provisório (para acolher os migrantes), aquilo ali é quente, nesta altura do ano”. Não contente, Júdice ainda chamou “burro” a um líder local não identificado e contou uma história da qual não estava seguro envolvendo um voo da TAP e quadros da empresa. Já agora, a frase exacta: “Admite-se o palerma do ministro da Administração Interna dizer que a compensação (aos proprietários de habitações do Zmar) não tem importância? Mas pode-se dizer isto?”
Claro que sim, pelos vistos pode-se dizer isso. Isso e muito mais. Pode-se, aliás, dizer tudo, revelando a maior das ignorâncias e das incontinências verbais. O comentário, na TV ou na Imprensa, está a tornar-se um problema grave. São dezenas e dezenas de comentadores. Contam-se pelos dedos de uma mão os que transmitem algo de relevante. Se os canais de Informação retirarem os seus comentadores e convidados, ficam praticamente “nus”. O mesmo para a generalidade da Imprensa. É um fartote de vaidades e egos exacerbados, alguns vivendo quase exclusivamente do ataque alheio, na esperança de que os visados lhes respondam Galamba e Cabrita valem o que valem. Está-lhes na cara e na pose. Só não vê quem não quer. António Costa assobia para o lado. Aparenta não estar cá. É sinistro, como diz Eduardo Oliveira e Silva.