Um dia, em 2020, o cidadão Lionel Delalleau aproximou o nariz daquelas pedras riscadas e percebeu que se tratava de escrita, que eram nomes em português, nomes de pessoas e nomes de localidades. E desta descoberta fortuita se chegou à conclusão que estavam ali, naquela parede, o testemunho da passagem de soldados portugueses que combateram na I Guerra Mundial.
São vários os nomes gravados naquelas pedras, alguns já estão meio apagados pela erosão da chuva e do vento. Mas outros lêem-se bem: José António Sousa, de Aveiras; MMJ (iniciais) de Alcochete; Fernando Gaio, são os mais fáceis de decifrar.



Blessy nunca foi palco de combates, a aldeia era um local de retaguarda e de treino militar. O Corpo Expedicionário português acampou ali. Naquela parede estão, porventura, os últimos sinais de soldados portugueses mortos em combate.
Outros sobreviveram e até casaram. Há registos dessa época de vários casamentos celebrados naquela igreja de soldados portugueses com mademoiselles francesas. Um português não se podia limitar a fazer riscos nas pedras da igreja…
Foi o caso de José Barbara, soldado mecânico, casou e ficou mesmo por ali. Um neto, igualmente chamado José Barbara, foi um notável piloto de corridas automóveis, bem conhecido em França.
Até agora, em Blessy, da passagem dos portugueses havia apenas os registos do padre que celebrou os casamentos dos soldados com meninas da terra, agora há uma parede da igreja a pedir que olhem com olhos de ver e que transformem aquilo numa atração para turistas que gostem de História.
Aliás, segundo confessou o autarca de Blessy, Jean Marc Furgerot, estas gravações são suficientemente importantes para obrigar a modificar o projeto de renovação que foi delineado para o edifício da igreja. Também o cônsul honorário de Portugal em Lille, Bruno Cavaco, já se comprometeu a zelar pela preservação daquelas pedras gravadas.
Interessante é também percebermos que aquilo que começou por ser, aos olhos de muitos, um acto de vandalismo, acaba por se tornar num testemunho histórico. Por sorte, não parece haver ali nenhum palavrão…

(esta descoberta foi noticiada em primeira mão pelo LusoJornal de França)
Fico contente por esta notícia ter sido aproveitada por Carlos Narciso para o ‘Duas Linhas’ . Primeiro, para que dela se tenha conhecimento entre nós; depois, pelo que ela significa de atenção a uma documentação de real valor histórico que tinha passado despercebida: os grafitos.
Bem haja, Carlos!