“Acho que a defesa das árvores é uma questão de bom senso. É uma questão de sensibilidade e querer qualidade de vida”, afirma Filipe Dâmaso Saraiva que recorda que “ontem [dia 14 de Abril] fomos confrontados de surpresa com um aviso de estar agendada uma intervenção no arvoredo, e nesse aviso constava a intervenção que é: está denominada como poda a talão”. Como explicou ao Duas Linhas o arquitecto paisagista Duarte d’Araújo Mata, a poda a talão corresponde “à importação errada para o arvoredo de alinhamento de uma técnica utilizada na poda da vinha. Em arvoredo corresponde a ‘rolagem’ ou a que o Prof. Ribeiro Telles chamava de ‘poda camarária’”.
Filipe Saraiva prossegue: “Tendo constatado que isto estava planeado, encetámos as diligências formais: mandámos email para a Câmara com requerimento para que esta poda não acontecesse, e constatámos nesse dia algo que não nos tínhamos apercebido: nos dois dias anteriores, tinham estado a fazer essa poda numa rua ao lado, e era muito evidente o que ia acontecer no dia seguinte, hoje, e era atroz”, frisa o paço-arcoense. O casal afirmou ter contactado várias pessoas nessa altura, tendo conseguido que dezassete pessoas subscrevessem o email enviado à autarquia, mais concretamente a três departamentos diferentes, o qual solicitava a suspensão imediata da poda a talão das árvores em causa.
“Aquilo que nos foi dado a entender, através do que os trabalhadores nos diziam, (…) as razões eram de perigo de segurança pública porque estas árvores são particularmente propensas a quebras: são quebradiças e já tem havido um longo historial de queixas de ramos que são partidos em temporais e outras situações, e danos à propriedade”. “Não é que não entendamos estes argumentos, acreditamos no entando que existem outras soluções do que se chegar a uma árvore e mutilá-la de forma irreversível. Existem outras soluções para respeitar aquela forma de vida que passam por não deixar que estacionem carros debaixo delas, delimitar a área, ser um espaço verde, outro tipo de infraestrutura urbana conducente à qualidade de vida”, frisa Filipe, que continua: “As árvores estão numa área de estacionamento, não estão no meio da via, nem próximas de habitações. O risco que poderia haver era um vendaval, um temporal ou uma chuva mais forte… os ramos que já estão fragilizados, não por causa da espécie mas por causa do tratamento que a árvore tem vindo a sofrer no passado (…) esse risco, havia. Mas o risco, achamos que tem de ser gerido de outra forma”.
Cláudia Rosado Silva designa esta prática de “violência extrema”, para mais em época de Primavera, e chama a atenção para o facto destas podas poderem ser contraproducentes: “Se a árvore sobreviver, (à partida sobrevive) vai dar uma resposta a esta agressão e a forma que uma árvore tem de responder a estas agressões é ramificar, e vai ter uma estrutura de ramificação e tentativa de formar uma nova copa e todos esses ramos vão crescer mais frágeis”, explica.
Filipe Saraiva recusou-se a abandonar o local para prosseguirem os trabalhos, pelo que o encarregado da obra (por indicação do superior hierárquico) chamou a Polícia Municipal. “Na altura em que só lá estava a Polícia Municipal e em que esta estava a falar com esse superior, o polícia foi muito explícito em perguntar a Valter Barão [o responsável camarário pela intervenção] se não existia nenhuma margem de diálogo, abertura para chegarmos a um entendimento, e Valter terá dito que não: era um perigo de segurança pública, estava decidido e aprovado, a obra era para continuar e não havia conversa a ter”.
Não conseguindo demover o casal, foi chamada a PSP. O visado afirma que a detenção levada a cabo pela PSP “foi um processo perfeitamente pacífico, diplomático: tentaram ajudar. A polícia foi super polida, não houve nenhuma colisão ou conflito”, porém, Filipe insistiu em tentar travar os trabalhos, tendo acabado por ser detido e encaminhado para a esquadra de Oeiras, onde se procederam às diligências previstas na lei. Insistiu ter sido tratado com cortesia, e de seguida foi presente a Tribunal, onde recusou apoio judiciário.
Acabou por ser libertado e aguarda a decisão em casa. Ambos alegam que não tiveram qualquer feedback por parte da Câmara Municipal de Oeiras, mas admitem não ser expectável reacções em tão curto espaço de tempo. Apesar de desconhecerem o regulamento existente nestes casos, discordam com um espaço de tempo tão curto (24 horas) entre a notificação e as intervenções em si.
Sobre a legislação, Duarte Mata é taxativo: “Não há regulamento do arvoredo em Oeiras, logo a informação não é publicada, ninguém sabe. Quando se pergunta aos técnicos, estes referem que cumprem apenas ordens superiores. Não há informação. Quando se pergunta formalmente por escrito as respostas são telegráficas e são respostas-tipo do género “a autarquia tem técnicos responsáveis e está a executar os trabalhos em conformidade” ou similar. Em todo o caso nunca se “rolam” árvores por questões de ‘segurança pública’”.
Cláudia Silva defende que em casos semelhantes, seja disponibilizado um relatório a acompanhar o anúncio para divulgação pública, bem como um prazo dentro do qual as pessoas pudessem manifestar-se. Esta voluntária revelou que estava a manter as pessoas a par do que se passava nas redes sociais e que houve quem partilhasse experiências semelhantes, tanto no concelho de Oeiras como noutros concelhos do País.