Era um caso extraordinário daquilo a que podemos chamar “capitalismo popular”. O comerciante abriu o negócio em 1933, numa loja alugada num bom local da Rua Augusta, na baixa lisboeta. Ao longo dos anos o patrão teve uma relação tão extraordinária com os funcionários que lhes deixou o negócio em testamento. Quando o senhor Manuel faleceu, os trabalhadores continuaram a levar o negócio para a frente com igual sucesso. E foi assim durante décadas.
Esta espécie de sociedade tinha uma regra muito interessante. Qualquer trabalhador que lá permanecesse durante 10 anos passava a ser sócio. E foi assim que a empresa chegou a ter 22 sócios. E nem por isso a coisa funcionava pior. Os sócios nomeavam a administração a quem cabia a gestão do negócio e todos trabalhavam nas mesmas funções de sempre: uns no balcão a atender o público, outros na contabilidade, outros no armazém.
Até que um dia veio o senhorio dizer-lhes que não estava interessado em manter aquela loja aberta, que tinha outras ideias para a loja e ofereceu-lhes uma quantia em dinheiro para saírem no final do contrato.
Os sócios reuniram e decidiram aceitar. A renda estava já tão alta que, mesmo com o negócio a correr bem, já era difícil de sustentar. E foi assim que fechou para sempre a célebre Casa Frazão, loja onde se compravam tecidos de boa qualidade e, também, roupa de pronto-a-vestir.
Com o fim da Casa Frazão acabaram também algumas das modistas que ainda sobreviviam num mundo de roupa já feita. Sem casa para vender tecidos, também deixou de haver clientes para as modistas. Assim as coisas mudam.