Salvem os animais, gritou ela!

Inconfidências de uma amiga que sabe que jamais a sua identidade será aqui revelada. O anonimato das fontes é um dos pilares... da amizade.

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Desta vez foi ela quem me telefonou. Quase nunca aconteceu antes, apenas em momentos de grande aflição. “Uma senhora não telefona a meio da noite a um cavalheiro”, costuma dizer-me. E durante o dia anda distraída com outras coisas.

Mas, bom. Desta vez, quando o telemóvel vibrou a meio da noite, era ela. “A Brigitte ligou-me!”, anunciou com voz triunfante. É que a outra não costuma ter a iniciativa de lhe ligar. É a isto que se chama hierarquia, estão a ver?

“E o que queria a Brigitte?”, perguntei, sabendo de antemão que nem teria precisado de o fazer. “Foi recebida pelo Macron, imagine só!”, notei-lhe um ligeiro despeito no tom… e quase sem respirar contou-me que a amiga famosa deu um raspanete ao Presidente da República francesa, a propósito dos direitos dos animais e a liberdade religiosa. Brigitte Bardot é uma das maiores ativistas na defesa dos direitos dos animais, mas quanto à liberdade religiosa já nem tanto. Em França comem quase tudo o que se mexe. Se juntarmos as tradições gastronómicas francesas com as tradições das múltiplas comunidades religiosas que lá existem, temos que desde cavalos e burros, a cabras e borregos, morcegos e cães, mexilhões e ostras, cobras e passarinhos, tudo marcha para o prato, por uma razão ou por outra.

Brigitte queria que Macron proibisse por decreto o abate ritual de animais, “um horror”, diz ela. E com razão. Mas o Presidente preferiu a paz social. A coisa ia dando para o torto, aos 85 anos de idade, a diva já não tem a mesma paciência que tinha antes para aturar homens. ! ”Oui Monsieur le Président je vous engueule”, disse-lhe ela quando Macron lhe pediu para ter calma.

“Você não tem coragem, está sujeito a essa prática bárbara abominável. Outros países como a Islândia, Dinamarca, Eslovénia ou as regiões da Valónia e Flamenga da Bélgica provaram a sua independência e o seu poder banindo-os”, disse ela com teatral veemência.

“Se você quer uma França sujeita aos religiosos, diga-o com franqueza, ou segure a coragem com as duas mãos e proíba esses rituais imundos que desonram o nosso país”, acrescentou a outrora diva do cinema.

Se o relato da minha amiga foi fidedigno, foi mais ou menos assim que a coisa se passou. Et voilá! Bravo, Brigitte!

Na Bélgica também era assim, mas agora há uma lei que minimiza o sofrimento dos animais abatidos ritualmente. A norma proibiu a matança de animais sem que eles tenham sido previamente insensibilizados, de modo a serem abatidos sem sentirem dor.

Não se sabe ainda se a lei está a ser cumprida, sabemos apenas que judeus e muçulmanos continuam a seguir preceitos (kosher para judeus, halal para muçulmanos) em que vacas, cabras, ovelhas ou aves de curral devem ser sacrificadas com um corte na garganta e deixadas a sangrar durante horas até morrer. Sem lhe dar nomes específicos, era o que os católicos faziam em Portugal com perus, galinhas e porcos antes da ASAE proibir as matanças tradicionais.

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