Em Portugal não foi notícia. A televisão só dá covid-19 e, de resto, noticiário sobre política internacional só quando há muitos mortos e feridos ou dá jeito a alguma potência amiga.
A notícia seria que Portugal não votou a favor da “eliminação do racismo, da discriminação racial, da xenofobia e formas conexas de intolerância”, assim se designa a resolução com o código A/RES/75/237 da Assembleia Geral das Nações Unidas.
O voto do Estado português é uma tentativa de passar entre os pingos da chuva. Não alinha com os Estados Unidos, Inglaterra ou Alemanha, mas também não alinha com a grande maioria das nações do Mundo que votaram a favor e aprovaram a resolução.
Uma abstenção numa matéria destas é uma atitude aparentemente cínica e cobarde. Faz pensar que a abstenção portuguesa é uma tentativa de não comprometimento para evitar futuras represálias. Nenhum Estado europeu votou a favor, a maioria absteve-se, alguns votaram contra. Sem explicações oficiais, ficamos com a sensação de que houve concertação diplomática para orientar o voto dos europeus.
Seja como for, é uma pena. Para o futuro, o que fica é o voto expresso. Todos os países de língua português votaram a favor, até mesmo o Brasil de Bolsonaro. Aquilo que deveria ser um tema consensual, não mereceu o voto de Portugal num momento em que tem um Governo sustentado pelo Partido Socialista. No futuro próximo, veremos que implicações tem tudo isto quando quiserem reeleger António Guterres como secretário-geral da ONU.

Duas Linhas pediu esclarecimentos ao Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre os considerandos que levaram a esta abstenção na votação sobre a resolução 75/237 da Assembleia Geral das Nações Unidas. Se alguém no Palácio das Necessidades nos responder, daremos conta das justificações do Governo português.