A Câmara Municipal de Lisboa (CML) prepara-se para, a cobro deste novo confinamento,
acelerar a transformação do espaço público de algumas das principais artérias, praças e zonas
residenciais da capital, depois das polémicas, contestadas e pouco planeadas obras na Avenida
Almirante Reis, Praça de Espanha e Defensores de Chaves, entre outras, muitas outras, que
vários grupos de Cidadãos e Vizinhos têm contestado de forma veemente.
Foram tornados públicos recentemente os planos para as alterações da ciclovia da Almirante
Reis, que resultará numa ‘emenda pior que o soneto’. Esta passará de ciclovia bi-direccional
para duas ciclovias unidireccionais, o que colocará agora ambos os sentidos da Avenida sob
pressão, deixando aos automóveis uma faixa de rodagem para cada lado, larga e ineficiente,
onde não será possível dois carros estarem, em segurança, lado a lado.
Do mesmo modo, sempre que um autocarro parar para recolha de passageiros o trânsito
parará, agora em ambos os sentidos. Além disso, a ligação ao Martim Moniz pela Rua da Palma
retirará a maioria dos lugares de estacionamento de superfície, entre eles alguns destinados
aos veículos de animação turística e não deixando espaço para as cargas e descargas dos
comerciantes. Ninguém foi consultado, não há alternativas. Quem aí trabalha, perde a rua.
Foi ainda conhecida a intervenção a realizar na Avenida de Berna, pronta a iniciar e
amplamente criticada em reunião pública de Assembleia de Freguesia convocada
expressamente para o efeito. De novo, a construção de uma ciclovia é a principal novidade da
intervenção que, não retirando faixas de circulação, eliminará todo o estacionamento, de
ambos os lados, numa estimativa nunca inferior a 100 lugares que não encontram alternativa
em parques, à superfície ou subterrâneos, numa zona com muita habitação, a totalidade ou
quase sem garagem. Quem aí vive, perde a rua.
Em vários outros pontos da cidade, em obras sem tanta visibilidade e mediatismo, vários
Vizinhos contestam a colocação de pilaretes em zonas de estacionamento residencial noturno
consensuais, mas que agora se torna impossível, como acontece nas ruas de Arroios; na
marcação de lugares de estacionamento em espinha quando antes eram perpendiculares,
ocupando o mesmo espaço mas reduzindo os lugares em mais de 20%, como se vê na ex freguesia de São João, agora inserida na Penha de França; nas multas aos residentes
confinados em São Domingos de Benfica, com dístico pago mas sem lugares devido às
(des)marcações de lugares levadas a cabo pela EMEL.
Estão-nos a tirar as nossas Ruas. Com intervenções cegas no espaço público, sem estudos, com ideologia, sem conhecimento da realidade e gastando milhões, a CML está a piorar a nossa qualidade de vida e a dificultar a nossa mobilidade. A nós que as vivemos, a nós que nelas trabalhamos. Queremo-las de volta. Queremos as Ruas para quem nelas trabalha… e nelas Vive!
Como residente em Lisboa, as ciclovias não me incomodam minimamente, o que incomoda sim, são os milhares de carros que todos os dias entram em Lisboa para chegar às zonas com melhor cobertura de transportes públicos do país. Causando atrasos nos autocarros, acidentes e poluição desnecessária. Sei que o meu comentário será em vão pois todos os velhos do Restelo tem uma desculpa para entupir a cidade todos os dias, e porque acham que andar de carro para onde lhes apetecer que é um direito. Idealmente e tal como existe em diversas cidades europeias o acesso de carro ao centro das cidades deveria ser taxado, por exemplo 5euros por dia.
Materia triste, o comodismo de cidadaos sem visão de futuro alguma. Uma mentalidade dos anos 50 que achava que o carro savaria o mundo, opositores a estratégia de mobilidade urbana, a pluralidade de modais de transporte.. é triste para nós e ainda mais para eles, pois a cidade que voces querem conservar já morreu!
Cada vez mais estamos a extremar posições, sem contudo querer efectivamente resolver o problema. Ora estávamos no 80, agora vamos ao 8.
O problema da mobilidade vem principalmente de 2 grandes factores, o empurrar as pessoas cada vez para mais longe de onde trabalham, e o total desinvestimento numa rede funcional de transporte público na cidade.
Políticos de olhos fechados, anos após anos.
Agora chegamos a um ponto onde se encontrou uma maneira de se desresponsabilizarem deste nó que tem sido criado e estrangulado. Nada do que faria sentido para retirar pressão automóvel foi feito; os grandes parques fora da cidade, os silos quer subterrâneo quer em aproveitamento em altura, a melhoria de mais transporte público com melhores rotas. Apenas se está a seguir pelo caminho “mais barato” passando o ónus para a bicicleta.
Não estou contra as ciclovias, pelo contrário, sou utilizador frequente das mesmas, apenas não vejo vantagem de estar a criar vias paralelas umas às outras, sem sentido.
E sim, bicicletas e trotinetes fazem também parte da solução.
Menos carros, mais árvores, mais bicicletas, mais passeios, são a solução. O resto são dores de crescimento.