Clemente I foi o 4º Papa da Igreja Católica. É um dos principais mártires da Igreja. Foi baptizado pelo próprio Pedro, um dos 12 discípulos de Jesus e primeiro Papa. Viveu os primeiros tempos de expansão do Cristianismo, tempos difíceis para os seguidores da nova fé. Foi exilado para a Crimeia e foi lá que anunciou ter começado a falar com Deus. Quando fez brotar água das rochas, foi a gota de água para o Imperador Trajano que o condenou à morte por afogamento. Uma ironia macabra, mas é o que reza a lenda cristã sobre Clemente.
O corpo arremessado às águas do mar Negro, preso pelo pescoço a uma âncora. Nesta fase da história, a lenda entre definitivamente no campo do fantástico e conta que todos os anos o mar recuava até determinado local onde o corpo de Clemente permanecia no interior de uma gruta em forma de templo, possibilitando que os fiéis lá fossem rezar junto das ossadas. Até que deixou de recuar. E a história arrefeceu.
Sete séculos depois, em plena Idade Média na Europa, fiéis católicos recuperaram a história e acrescentaram-lhe mais um ponto. O mar não recuou, mas as ossadas de Clemente vieram dar à costa e foram por eles recolhidas.
Hoje, no século XXI, essas ossadas são consideradas relíquias da Igreja. Mas o esqueleto foi separado, algures no tempo. Uma parte estará guardada no Vaticano, outra parte terá ido para a Rússia e fazem parte do espólio da igreja da Natividade em Kiev, na Ucrânia. E há uma parte que está na igreja dos Congregados, no Porto. Sobre estas ossadas, não há nenhuma explicação que seja do conhecimento público.
Como foram parar a esta igreja construída no século XVIII, não se sabe. Mas estão lá, embutidos na talha dourada, pequenos ossos e fragmentos de ossos que dizem ser do Papa Clemente I.
Na verdade, há ossos e fragmentos de ossos do Papa Clemente I um pouco por todo o lado. Em 2017, em Inglaterra foi encontrada no lixo uma pequena caixa oval selada com cera que inclui a inscrição: “Dos ossos de São Clemente, Papa e Mártir”.
Não se sabe se alguém abriu a caixa para verificar o que lá está dentro, mas acreditamos que não. As coisas da fé não se questionam. Hoje, essa caixa faz parte do espólio da Catedral de Westminster.
Ou seja, pouco importa se as ossadas que se diz serem do Papa Clemente são ou não verdadeiras, sejam as de Kiev, as do Porto ou as do Vaticano. Importa apenas o efeito que causam.