Não, não passam nos programas de família das manhãs ou das tardes televisivas. E também devem estar no índex da Rádio Renascença. Por outro lado, têm tudo para ser um sucesso, a não ser que o céu e a inveja lhes caiam em cima.
Inspiraram-se em Amália, mas são tudo menos convencionais. Provocação e ativismo são os pilares políticos destes dois artistas que têm um projeto que dá pelo nome de “Fado Bicha”.
Na verdade, podem cantar o que quiserem, mas deu-lhes para o fado. Mas sem aquele sentimento profundo da saudade tão portuguesa. Do modo como o fazem, dão voz à comunidade LGBTI [Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo], denunciam o racismo e as desigualdades, as memórias da escravatura e da colonização.
Os videoclips são mais uma ferramenta desta ofensiva cultural protagonizada por Lila Fadista e João Caçador. O poder da imagem é usado como rastilho de uma mensagem revolucionária porque limpa e verdadeira. E como dizia o outro, “só a verdade é revolucionária”. E a verdade é que sempre existiram homossexuais, desde toureiros a engenheiros, trolhas ou fadistas, ministros e militares. Personagens reais, mas que não constavam nas letras do fado tradicional. Agora, já constam nas líricas do Fado Bicha. As almas mais sensíveis não devem ver o videoclipe que agregamos já a seguir.
Lila e João, de certeza que há vidas mais fáceis. Há uns meses que desapareceram das redes sociais. O último vídeo no YouTube foi colocado há mais de 6 meses. Do Facebook disseram adeus a meio de janeiro. Mas como prometeram não se calar, um dia destes estão por aí outra vez.