Ildefonso é um homem elegante. Saiba porquê.

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À hora da refeição, intervalo no protesto. No tempo de vacas mais gordas, o restaurante O Apeadeiro oferecia-lhe uma refeição por dia. Agora, a solidariedade mantém-se, mas Manuel Ildefonso paga a sopa, 1,50 € e oferecem-lhe mais alguma coisa para comer.

Manuel Ildefonso diz que poderia receber uma refeição diária na Misericórdia de Sintra, mas Mem Martins fica longe para quem não tem meio de transporte. Durante algum tempo foi lá, almoçava e tomava um banho. Depois, o banho foi cortado e deixou de ir.

“Primeiro foi a caldeira que avariou, segundo disseram”, explica Manuel Ildefonso. “Eu disse-lhes que tomava banho de água fria, mas 15 dias depois argumentaram que as regras tinham mudado e que não podia tomar mais banho ali”. E nunca mais lá foi.

A dieta diária de Ildefonso passou a ser um pão e uma peça de fruta, mais a sopa e o conduto que lhe oferecem no restaurante O Apeadeiro que sobrevive com o take-away. É o que se consegue com os 188 € mensais do RSI, o único apoio que este cidadão tem do Estado português. Assim, Ildefonso não engorda, mas a magreza não o dobra. Cultiva uma teimosia elegante no modo como explica o que se passa a quem se interessa pelo seu caso.

fotografia de Rafael Baptista

Manuel Ildefonso continua a viver numa casa em ruínas no centro de Sintra. E continua em protesto à porta da Câmara Municipal, entidade que tem a obrigação de resolver este problema de quem ficou doente, desempregado e sem abrigo.

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