Os hotéis Nau são um exemplo de como a Banca com o nosso dinheiro andou a financiar projectos megalómanos. Quando os hotéis ainda pertenciam a Carlos Saraiva, construiu-se no Algarve um mega projecto, a Herdade dos Salgados, em que as palmeiras plantadas pareciam um canavial de bambu. Coisa estranha.
Estávamos na fase descarada do quanto-mais-melhor. Os notários aceitavam alegadamente que um hotel hipotecado servisse de garantia para a construção de um novo hotel. Um verdadeiro dominó. Um homem aparentemente simples conseguia assim créditos inesgotáveis. Para isso contribuíam também borlas de alojamento numa unidade de luxo à notária de serviço. Em três anos construiu 11 hotéis.
Era tudo em grande. No casamento da jurista de Carlos Saraiva, perguntei quantos hotéis tinha. A resposta foi “700 milhões de euros”. Em 2010. Parecia nem saber o nome das unidades. O empresário, homem de grande afabilidade, contou-me que a joia da coroa era um hotel localizado nos Açores.
Ele metia-se aos comandos do seu jato particular, voava para lá, ia a Paris às compras, regressava por Roma, onde jantava, e voltava a Lisboa. Tudo no mesmo dia.
“É muito cansativo”, disse eu, sem saber o que mais dizer. E a resposta? “Cansativo é ficar duas horas no pára-arranca do IC19″. O jato acabou por dar problemas, com Luís Felipe Menezes, que queria vender a sede do PSD na Lapa para ganhar as eleições legislativas. Veio a crise do Lemons e julgou-se que os hotéis do meu “amigo” iam cair como cartas.
Mas não. Mudaram de mãos, para a ECS, um grupo de capital de risco que afirma na sua página web o seguinte: “Os investidores nos fundos geridos e aconselhados pela ECS incluem instituições financeiras ibéricas e internacionais de referência, o Estado Português e vários investidores privados”.
Eclipsou-se Carlos Saraiva no seu jato e apareceu o ECS que, entretanto, vende agora os hotéis de novo numa crise, desta vez provocada pelo Covid-19.
Mas afinal andam todos a perder dinheiro de quem? Há um mundo que não entendemos. Deve ser por causa do fumo do IC19.
Tive de me rir com a pergunta e resposta do último paragrafo