O coletivo de cidadãos chama-se “Campanha Alimentar e de Apoio Imediato”, agrega já sete associações comunitárias da região de Lisboa e Vale do Tejo, principalmente da linha de Sintra. São pessoas que lutam por minorar as dificuldades dos vizinhos mais necessitados. Na carta de apresentação que publicaram no Facebook, dizem ter como “objetivo obter apoios e donativos para serem distribuídos pelas populações, famílias e pessoas em situação de carência.”
José Baessa de Pina é um dos ativistas desta campanha e explicou-nos, em entrevista telefónica, que “os pedidos de ajuda chegam de todo o lado, até de pessoas da classe média que viram a vida desmoronar por causa da crise que se instalou com a pandemia”.
Os ativistas organizaram-se, apoiaram-se nas frágeis estruturas erguidas ao longo dos anos por associações locais, criaram vasos comunicantes entre eles e dirigem a ajuda conseguida para onde está a ser mais necessária.
José Baessa de Pina é vice-presidente da Associação Cavaleiros de S. Braz, no Casal da Boba, na Amadora, e conta que no ano passado, na primeira vaga da pandemia, distribuíram um pouco mais de mil cabazes alimentares, entre abril e agosto. Agora, as necessidades são maiores, a crise é mais profunda, há muito mais gente necessitada. “Pobres já somos todos”, diz José Baessa, e o problema agrava-se porque “há vergonha social, as pessoas não confessam estar a passar fome”, e muitos casos só são sinalizados quando atingem situações extremas.
Por isso eles ajudam as pessoas “sem alarido”. Gostavam, no entanto, de ter apoios que lhes facilitassem a vida. Por exemplo, o Banco Alimentar Contra a Fome não chega até eles porque só funciona em parceria com outras instituições como, por exemplo, as Misericórdias.
“A burocracia para chegar ao Banco Alimentar é desencorajante”, desabafa este ativista comunitário, lamentando que a Junta de Freguesia local lhes tenha fechado o espaço onde funcionavam porque “o protocolo acabou”. Infelizmente, “querem é documentos, documentos, documentos”, diz José Baessa que dá um exemplo curioso que funciona ao contrário da Junta de Freguesia de Arroios que, apesar de não ser daquela área, lhes tem prestado apoio solidário inestimável. “Muitos de nós nascemos na maternidade do Hospital Dona Estefânia, estamos registados na Freguesia de Arroios” e isso criou um laço de solidariedade que se reflete na doação de máscaras e de alimentos, por exemplo.
Nenhuma igreja se aproximou deles, nem católica, nem adventista, nenhuma, garante José Baessa, ao contrário do Centro Cultural de Cabo Verde que presta algum apoio e fez algumas doações de máscaras de proteção individual.
Neste mar de sinais contrários navegam estas pessoas associadas pela vontade de ajudar. Agradecem doações monetárias e produtos como, por exemplo, fraldas, produtos de higiene, comida, leite.
Além da fome, há também apoio para atividades escolares para crianças que fiquem sozinhas em casa e precisem de orientação para as aulas online. Na Associação Cavaleiros de S. Braz, por exemplo, o projeto BOBAEDUCA tem 17 crianças inscritas que precisam de ser acompanhadas no estudo.
Estamos a falar de gente boa que não está ali à espera de votos ou outras benesses.