Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal, diz que a situação é de crise profunda, todos os alojamentos locais em Portugal estão a atravessar um “cenário completamente drástico” com a previsão de “faturação quase nula nos próximos meses”.
Até maio, pelo menos, não vai haver clientes para a maioria das empresas e o verão não vai ser grande coisa, a acreditar na análise da agência de rating Moody’s. “A trajetória da pandemia é bastante desafiante e temos expectativas modestas para a época do turismo este verão”, disse Sarah Carlson, analista da Moody’s em entrevista à agência de notícias Lusa.
O atraso na produção de vacinas anti-covid não ajuda a recuperar setores como o turismo ou a hotelaria. Enquanto os efeitos da pandemia não se dissiparem, algumas atividades económicas não irão conseguir recuperar.
No caso português, para além de haver milhares de grandes hotéis completamente paralisados, a miríade de pequenas unidades de alojamento local estão perante o tremendo desafio de sobreviver sem dinheiro na caixa. O setor precisaria de subsídios a fundo perdido ou de linhas de crédito com dinheiro muito barato, para poder ter esperança de sobreviver meses a fio sem faturar.
O presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal diz mesmo que “estamos numa situação de risco de sobrevivência de muitos operadores, o que gera um colapso de uma parte significativa do turismo”, disse, reiterando que só é ultrapassável se houver um “apoio a curto prazo”.
Mas como António Costa não é D. Sebastião, muitos já puseram as pequenas unidades hoteleiras à venda. Na Avenida da Liberdade, há um prédio inteiro disponível para quem tenha 700 mil euros, uma pechincha impensável há um ano, antes da pandemia. Diz o anúncio, “Prédio em propriedade total para alojamento local junto à Avenida da Liberdade em Lisboa… foi totalmente renovado, conta com três pisos individualizados para hospedagem.”
Mesmo os que têm menos encargos com hipotecas estão a querer livrar-se de despesas sem retorno, como é o caso de casas alugadas para alojar turistas. Fora de Lisboa é mais barato.
Mas se em Lisboa ainda aparecem turistas tresmalhados, gente que gosta de fintar coronavírus entre os pingos da chuva, nos locais menos turísticos o panorama deve ser assustador.
Na Ericeira, por exemplo, onde entre pequenos hotéis, unidades de alojamento local, restaurantes e bares, há uma unidade hoteleira porta sim porta sim, já há muitos restaurantes e pequenos hotéis à venda, cujos proprietários estão a tentar mudar de vida.
Na Venda do Pinheiro, onde só há um único alojamento local, os proprietários preferem não falar dos problemas abertamente. Recusaram a entrevista. Talvez para não chorar em público. A pandemia está a ser um embate violento.
Por todo o país, as tabuletas de vende-se marcam a paisagem.