As histórias do Palácio dos Estaus e da igreja de São Domingos

O Pogrom de Lisboa ou Matança da Páscoa de 1506, resultou da acusação de serem os judeus a causa da seca, fome e peste que assolavam o país. Isto faz lembrar algo semelhante que se ensaia hoje de novo na política portuguesa, desta vez com o povo cigano.

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Em 1506 a população de Lisboa estava a ser dizimada pela Peste Negra. Não havia conhecimento científico capaz de parar com aquele contágio mortal. O desespero levava as pessoas para as igrejas, onde rezavam por ajuda divina. Numa dessas missas, alguma coisa aconteceu que despoletou um ação de grande violência contra a minoria judia que vivia na cidade. Relatos da época falam em mais de 4 mil mortos. Queimados vivos. Uma espécie de holocausto à escala da época e do reino. A velha igreja de São Domingos ficou, assim, para sempre, marcada por esse horror que durante dias queimou gente viva ali mesmo.

pintura representativa do massacre de Lisboa

Dizem que foi um sítio amaldiçoado a partir de então. Vinte cinco anos mais tarde, um prenúncio do cataclismo que iria acontecer, a igreja de São Domingos ficou parcialmente destruída por um sismo.  Em 1755 voltou tudo a ser deitado abaixo, no grande terramoto que destruiu a cidade.

A 50 metros de distância da porta da igreja estava o Palácio dos Estaus. Pois foi ali mesmo que se instalou a Casa do Despacho da Santa Inquisição. Durante 300 anos, a Inquisição Portuguesa perseguiu, julgou e puniu pessoas acusadas de cometer crimes considerados heréticos. As vítimas eram, quase sempre, judeus. Ou mulheres, as bruxas. Morreu muita gente, Lisboa guarda essas memórias e um dia há de ser dia de pedir perdão por tantos pecados.

Por isso, foram muitas as pragas rogadas e o edifício pagou esse preço. O então chamado Palácio dos Estaus caiu com o terramoto de 1755. Demoraram 50 anos a reconstrui-lo e lá se instalaram gabinetes do governo monárquico da época durante muitos anos. Era Ministério das Finanças quando foi de novo destruído. Dizem que foi um súbdito arruinado pelos impostos que lhe pegou fogo. A verdade é que o edifício ardeu em poucas horas, com as chamas alimentadas por toneladas de papeis processuais de cobranças de impostos. Se não foi vingança, não se sabe o que mais poderia ter sido.

Reconstruído de novo, foi ali instalado o Teatro Nacional D. Maria II, lugar de cultura e de criatividade, de arte e redenção, mas que voltou a ser destruído pelas chamas na noite de 1 de Dezembro de 1964. A tarefa de reconstrução demorou 14 anos, reabrindo, finalmente, as portas ao público na noite de 11 de Maio de 1978.

Já antes a igreja de São Domingos haveria de passar também pela purificação das chamas, num grande incêndio que ali deflagrou em 13 de agosto de 1959. Ardeu tudo, toda a talha dourada e valiosas pinturas e imagens religiosas. A igreja só voltou a reabrir ao público em 1994. Agora, pode ser que os espíritos dos que morreram injustamente estejam apaziguados e este pedaço de Lisboa possa, finalmente, viver em paz. Ou talvez não.

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