Submetido diariamente a “doses cavalares” de vacinas contra o Covid-19, atrevo-me a sugerir o combate a outro “vírus” ainda mais subtil e letal. Ou será que no ano mais atípico das nossas vidas, e com as eleições presidenciais a decorrer, nos podemos dar ao luxo de desperdiçar a análise de novas trajetórias?~
Trata-se de uma pergunta pertinente, por variadas razões:
- – Porque a atual Presidência, muito hábil na promoção da imagem e preservação da “qualidade de vida” de quem a apoiou, nunca demonstrou empenho consequente por qualquer boa causa. Nem sequer regista uma única intervenção verdadeiramente eficaz, na resolução de qualquer dos problemas que nos afetaram…
- – Porque, perante um vazio de ideias que até horroriza, estamos hoje centrados em debates eleitorais, e até em combates, que a maioria dos comentadores, habitualmente dóceis, considera medíocres e desfasados do exercício presidencial.
- – E sobretudo porque, com a “jangada” que é Portugal atolada num pântano que cresce, o “iate real passeia entre canoas” preocupadas apenas em se afundarem entre si.
No fim de um mandato desastroso, que não desastrado, a atual Presidência pauta-se pelo despesismo e pela multiplicação de “selfies”. Artes que encherão o “museu da História” e de que saliento três “obras-primas”: o desprezo pelo mundo rural, traduzido até no abandono do Pinhal de Leiria; a “justiça” concedida a um arguido fortemente indiciado, pelo MP, de lesar o Estado em 650 milhões de euros; e mais o “Caso Tancos” em que, com pompa e circunstância, foi prometida “justiça célere doesse a quem doesse”, para depois, em Tribunal, ser jurado que nunca mais tal assunto mereceu atenção.
E dispensem-me de continuar com esta “exposição” de péssimo gosto. Aborde-se antes o “branqueamento do sistema” e a profunda crise moral, social e económica em que o nosso país se atolou:
- – Sob a direção de um Presidente que, até na questão dos financiamentos protegeu os partidos tradicionais, não admira a proliferação de candidaturas que apenas fazem “prova de vida”, sem a mínima noção de como se “enxuga o pântano”.
- – A “arejar” um país em que a tradição é social e não liberal, é certo que existe a IL, uma candidatura “urbana”, mas sem carisma ou a mais pálida noção do funcionamento das instituições; enquanto isso, ganha expressão um “motorista sem carta” que, ao volante de um camião carregado de resíduos tóxicos, nos propõe mais nevoeiro e tempestades. Enquanto os “cérebros” da AR o transformam em vítima…
- – A somar, temos ainda o duelo pessoal entre duas candidatas que, apostadas em dissertar sobre a Europa e em violação grosseira da Constituição, proclamam esmagar um partido devidamente legalizado e que, por enquanto, nem está indiciado de crimes.
É certo que, a “elevar a fasquia”, a “oferta” inclui Vitorino Silva, também conhecido por “Celito dos Pobres”, candidato a quem o sistema procurou também “cortar o pio”. Um “sempre-em-pé” que até poderia causar estragos, fosse ele capaz de ver e ouvir para além de si próprio, “dom” em que se assemelha ao “Celito dos Ricos”.
Mas a grande “novidade” nestas eleições é mesmo o primeiro candidato da lista oficial, um “soldado desconhecido” que teve a lata de pôr à prova a competência de uma Instituição da República a que os ricos recorrem, depois de esgotados todos os recursos nas instâncias comuns. Enfim, uma trapalhada que rasa o surreal, até porque o tipógrafo do MAI, certamente em quarentena, não obstou a que o diligente Ministro antecipasse a impressão das listas. A governação no seu melhor…
Resta acrescentar que neste “Portugal Amordaçado”, e para nossa desgraça, os movimentos independentes do poder local, cultura, economia, ambiente, defesa do património e da área do social, e que o atual sistema combate ou ignora, viram goradas todas as tentativas de encontrar uma qualquer alternativa presidencial, válida e credível.
Cinco anos passaram e, no final de mais esta campanha que decorre perante a maior crise da História recente, arriscamos empregos, a perda de uma SS sustentável, um SNS decente e, sobretudo, a afirmação de uma Justiça capaz de nos dar conta do preço das prometidas “caixas de robalos”.
Por entre segredos mal guardados e “peixeiradas públicas”, uma pergunta deixo: será que não é tempo dos portugueses perceberem que têm de se empenhar na descoberta de uma vacina eficaz, sobretudo contra estes “vírus”?