Zé, tem lá calma contigo!

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Mão amiga fez-me chegar um artigo de João Pedro George, na revista “Sábado”, dedicado ao número de aparições de José Rodrigues dos Santos na Informação da RTP a propósito dos seus próprios livros. Sem grandes preocupações de rigor, JPG contabilizou, nos últimos anos, 23 intervenções do pivô da RTP em programas de Informação do canal. Umas mais pequenas, outras substancialmente maiores, incluindo várias presenças no programa “Grande Entrevista”.

Convenhamos, Zé (trato-te assim porque me piscas o olho, o que, em boa verdade, até me daria direito a outro tipo de liberdades…), parece-me demasiado. Sim, sei bem que nunca deste ordens a jornalistas para que publicitassem os teus livros.  Assim como também estou certo de que nunca lhes pedirias nada para te promover. Digamos que a coisa decorre do chamado nacional-porreirismo. Dito de outra forma, essa malta, seja lá quem for, simpatiza contigo. Seria, portanto, um erro confundir o tempo de antena de que tens beneficiado com o tempo de antena de que, em tempos, beneficiou um labrego que por aí andou e se serviu da RTP, em vários aspectos, à tripa-forra. Mas, meu caro, como bem sabes, tudo o que é demais cheira mal.

E tu já levas um bom par de pecadilhos no activo, o que significa que tens propensão para carregar nas tintas. Alguns desses pecadilhos até são bem pesados. Como aquele de teres tratado um deputado no feminino. Ou atirares o joelho para cima da mesa de apresentação. Num certo sentido, já te sentiste -acho que ainda sentes- o dono disso tudo. É um erro.

Mas também tens alguns créditos no activo. Tenho bem presente, por exemplo, a tua atitude, em 2004, quando foste atropelado por um camião conduzido pela administração dessa casa. Em causa, a nomeação do correspondente em Madrid, tendo sido designada, à tua revelia, a jornalista pior classificada em concurso interno. Demitiste-te de director de Informação. Fizeste o que poucos, muito poucos, teriam feito no teu lugar. Ou seja, és filho de boa gente.

Respeitaste, então, as normas do Código de Ética e de Conduta da RTP, nos termos do qual “é inadmissível a manutenção de situações irregulares ou de favor”. Revelaste, acima de tudo, respeito por ti próprio. E todos sabemos que aquela nomeação foi um enorme “favor” à jornalista designada, por razões que ela lá saberá. Mas os critérios têm de ser mantidos em todas as situações, e muito principalmente quando em causa estão situações de favor que dizem respeito a nós próprios. A ti, neste caso. Bem vistas as coisas, trata-se, apenas, de impores um pouco de bom-senso a essa malta, quanto mais não seja porque há sempre gente de olhos bem abertos.

Aproveito para te sugerir um pouco mais de calma na apresentação do Telejornal. Fazes aquilo numa postura de emergência tal que te transfiguras a ti próprio. Só me fazes lembrar a batida da música “Breakthru”, dos Queen. Ouve-a. E logo me dizes se tenho ou não tenho razão. Tens, por outro lado, de pensar nos telespectadores mais sensíveis. Evita desassossegá-los.

Andas, em vários aspectos, demasiado acelerado. É essa pelo menos, a sensação que transmites. Zé, tem lá calma contigo! Bem, tenho de reconhecer que desde há uns dias -poucos- andas mais tranquilo na condução do Telejornal. Mantém-te firme. Caso contrário, em menos de um fósforo voltas a acender as luzes rotativas.

Post scriptum – Acabei esta crónica e sentei-me frente ao televisor. Má hora. Levei logo com a entrevista à mulher do momento. Fiquei envergonhado.

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