O Campo de Santa Clara, onde se realiza a Feira da Ladra, vai mudar com o projecto de requalificação do Hospital da Marinha. Haverá mais prédios, novas gentes e outras utilizações.
A construção de três novos edifícios poderá ser o fim do dogma da preservação intocável da malha urbana das zonas históricas de Lisboa. O projecto do Hospital da Marinha, que contempla a ampliação com a construção dos tais prédios, é da Stone Capital, um actor recente na construção civil e da reabilitação em Portugal, comandado por dois-luso franceses de apenas 40 anos
Os projectos publicados na página oficial desta sociedade, um fundo de investimentos fechado, revela uma inovação inesperada em zonas históricas: a construção de edifícios de raiz em espaços vazios. Há no ar alegadas contradições da Câmara de Lisboa.
No site oficial da Câmara é revelado: “Comité do Património Mundial da UNESCO validou a candidatura “Lisboa Histórica, Cidade Global” à Lista Indicativa de Portugal a Património Mundial na 41ª reunião que decorreu na Polónia, na cidade de Cracóvia”.
Nesse documento lê-se que “abrange o território envolvido pela Cerca Fernandina, e ainda Santa Clara, São Vicente e Mouraria, incluindo assim os tecidos urbanos mais antigos da cidade, os colégios jesuítas (Santo Antão-o-Velho, Santo Antão-o-Novo e Noviciado da Cotovia)”.
E ainda, “enquanto locais de ensino de matérias científicas que constituíram grande contributo para a navegação, o Bairro Alto e o Mocambo, criados na sequência dos Descobrimentos, e a frente ribeirinha, de forte dinâmica, entre o Cais do Sodré e Santa Apolónia”.
A pergunta é se os “tecidos urbanos mais antigos da cidade” são os existentes agora ou o resultado das novas intervenções, de que a Stone Capital é um exemplo arrojado. Será a candidatura da Unesco uma contradição na conjugação do antigo e da modernidade? Vamos reabilitar ou deixar cair a cidade antiga? E quais são os limites?
