Os políticos portugueses já foram uns tesos ou não tinham peneiras. Logo após 25 de Abril de 1974, eram iguais aos políticos dos países nórdicos. Iam de eléctrico falar com o Presidente da República. Pagavam bilhete e não eram reembolsados em 130 por cento, como aconteceu com os deputados das regiões autónomas: bilhete de avião pago e toma lá mais um terço.
Na foto, Mário Soares paga o bilhete, acompanhado de Salgado Zenha, Manuel Alegre e Lopes Cardoso. A foto foi publicada no Diário de Notícias, há 45 anos. Na altura, o jornal era um gigante da informação dirigido por José Saramago, de uma forma pouco clara, tem de se dizer.
Os quatros foram a Belém falar com o Presidente Costa Gomes. A agitação nesse tempo era muita, mas a vida era simples e os Mercedes não faziam escola. Ninguém sonhava com ordenados milionários. E todos queriam repartir as coisas aos bocadinhos.
Manuel Alegre foi um arauto da Democracia, âncora da liberdade de expressão. Lopes Cardoso acabou com a Reforma Agrária e deixou um caos. Zenha era um político de convicções fortes que esteve preso por delito de opinião no salazarismo. E Soares fez a ponte difícil entre o socialismo na moda e o embaixador Carluci, mais tarde director da CIA, a secreta americana. A coisa resultou bem, em contas gerais.
Na foto, cerimónia da assinatura do Pacto de Assistência Financeira a Portugal pelos EUA, em 1977. Na foto, Silva Lopes (Governador do Banco de Portugal), Mário Soares e Frank Carlucci (fotografia do Arquivo Histórico Parlamentar).
A sapiência desses homens fez-nos recuperar 29 anos de diferença em relação à Europa que se libertou da Segunda Grande Guerra em 1945. Só foi pena que não tivessem posto uma rolha no esbanjamento. Nos Mercedes, nas senhas de presença no Parlamento, nas reformas dos deputados ao fim de 8 anos de função. E tudo resto que ajudou a criar a aversão dos portugueses à política.