A diversidade de ideologias políticas na Sociedade é de louvar. Depois, aos cidadãos competirá escolher, entre o universo de linhas políticas, aquela com a qual sintam mais afinidades e, em altura de eleições, votarem naqueles que pensam como ele.
O Parlamento seria, assim, um local de debate permanente que permitiria, em primeiro lugar, uma escolha certa das prioridades e, depois, a opção das melhores soluções para os diversos problemas.
Para isto resultar, em pleno, os partidos políticos deveriam ter de, como primeira obrigação, fazer uma selecção exigentíssima dos seus deputados. Os representantes do Povo na Assembleia da República deveriam, no mínimo, ser cultos, “experts” numa matéria (pelo menos), dedicados e estudiosos.
Deveriam ter a obrigação de, diariamente, explicarem as razões da sua escolha por um caminho em detrimento das alternativas apontadas pelos adversários políticos. Deputados assim teriam, com toda a certeza, um grande número de seguidores.
Lembro-me de grandes tribunos na nossa Assembleia da República com este perfil. Para não ser exaustivo: Mário Soares, Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral, Salgado Zenha, Costa Andrade, Vital Moreira e Natália Correia.
Hoje, o Parlamento, salvo raríssimas excepções, é composto por figuras menores que gaguejam quando confrontadas com casos concretos e seleccionadas ou para seguir “a voz do dono”, muitas vezes com discursos escritos ninguém sabe por quem (nem elas!…), ou para, ao contrário, criticarem sem nexo unicamente porque têm que ser contra a opinião dos adversários políticos.
No Parlamento actual só uma figura se destaca por dizer, exactamente, o que querem ouvir aqueles que nele votaram: André Ventura. Ele sabe ser apoiado pelos que defendem uma linha politica de extrema- direita, a exemplo do que vai acontecendo um tanto por toda a Europa, mas também tem consciência de que o grosso dos seus seguidores são os justiceiros, os populistas, os analfabetos, os rancorosos, os falhados, os que nunca leram um livro, os que se sentem puros, incapazes de pecar e pensam estar na fila de espera para uma canonização. Ele é a referência dos que acreditam estar acima de todos os que os rodeiam, dos que gostam de se crerem um exemplo para a humanidade. E, não podemos esquecer, a gente poderosa e rica que quer continuar a ser poderosa e rica seja como for.
André Ventura é um homem inteligente e culto. Sem dúvida dos mais inteligentes e cultos do nosso Parlamento. Descobriu um “nicho” onde podia basear a sua carreira política. Com toda a sua inteligência e cultura (é licenciado em Direito e um excelente jurista) percebeu que podia reunir, à sua volta, um grande número de indefectíveis apoiantes. E diz, com brilho, sarcasmo e coragem, o que os seus apoiantes querem ouvir.
Acredito que, muitas das vezes, o único que não gosta das suas palavras será ele próprio. Mas… há uma estratégia a seguir e ele segue-a com sucesso. Podem dizer que isso corresponde a falta de escrúpulos. Mas, em Portugal, pelo menos, escrever escrúpulos e política na mesma frase é, no mínimo, problemático.
André Ventura pode andar, tranquilamente, entre os seus porque será, sempre, apoiado. Quantos mais políticos portugueses poderão gabar-se do mesmo? Como será fácil de entender, pelo que escrevi até agora, o líder do Chega está nas antípodas do meu pensamento político.
Principalmente porque – como bem o define um amigo meu, médico jubilado e homem culto como poucos – é “forte com os fracos e, tranquilamente, súbdito dos poderosos”. Mas tem a minha admiração pelo simples facto de, sendo frontal, directo e corajoso, defender as suas ideias, contra tudo e contra todos, e levar a que muitos o temam.
Ver as grandes forças políticas renderem-se à sua vontade, apesar de ser um simples deputado contra uma imensa maioria, é prova da sua superioridade intelectual. E da cobardia de muitos dos restantes. É surpreendente ver gente que tantos admiram, e em quem confiaram o voto, render-se a quem consegue dominar a opinião publicada, mesmo dando de barato os problemas de consciência.
O líder do Chega opta por agarrar, com ambas as mãos, um número minoritário de eleitores mas que, sabe, sempre lhe serão fieis enquanto o ouvirem repetir, à exaustão, ideias que os povos desenvolvidos renegaram há muito.
Com isso, inacreditavelmente, tem conseguido que alguns dos nossos mais conhecidos políticos cedam a exigências suas, mesmo violentando os princípios básicos dos programas que juraram defender. Será que os líderes dos grandes partidos não percebem que vão perdendo a face com as constantes cedências. O que os levará a esta práxis? O que temem eles?
Dentro de alguns anos André Ventura será um caso de estudo. A maioria dos restantes um caso de desprezo.