Ainda o livro de Cristina Ferreira, que ela própria intitulou “Pra Cima de Puta”. Já foi dito, aqui e noutros lugares, que se trata de uma denúncia da autora sobre a agressividade, ofensas e insultos que tem sofrigo nas redes sociais.
Não é uma autobiografia, porque a vida da Cristina Ferreira não se resume a isto, mas podemos dizer que é uma quase-autobiografia, uma vez que a vida dela, no que ao público diz respeito, é quase só esta relação de amor-ódio com quem vê televisão.
A Cristina Ferreira é um produto da televisão tabloide, do talk-show para famílias, desempregados e reformados, a maioria dos que podem estar em casa a manhã toda e que aceitam entreter o tempo com conversas de café.
É o drama, o horror das historietas tipo desgraças pessoais, das doenças incuráveis, da lágrima ao canto do olho e do Calcitrin ou outra panaceia qualquer para as maleitas do costume, às vezes a chalaça, muitas vezes a agenda das agências de comunicação. É o business da televisão para esse público alvo.
Ora, o impulso que levou Cristina Ferreira a dar publicidade aos insultos e ordinarice que a rodeiam pode ser genuíno, mas é também a chave para um sucesso de vendas. É a própria Contraponto, editora do universo Bertrand, que o confessava ainda antes do lançamento da obra, ao publicitar com vaidade que “em função do elevadíssimo número de encomendas em pré-venda, a editora Contraponto avançou já com a reimpressão desta obra, pelo que ainda antes de chegar ao mercado o livro ‘Pra Cima de Puta’ já está em 2.ª edição.”
Melhor que isto só mesmo outra estrela da pantalha, o José Rodrigues dos Santos, a quem a editora Gradiva paga os livros mesmo antes de estarem escritos.
Os argumentos da Cristina Ferreira não são de menosprezar e na página Facebook da editora Contraponto lá está o momento audiovisual fulcral, a dramatização… (veja o vídeo)
“No livro nenhum comentário identifica a pessoa que o escreveu. Este livro não é uma vingança nem uma vitimização. Este livro é para que algo seja feito para a regulação da ofensa e da injúria nas redes sociais. Este livro é para que eu, tu, todos, sejam respeitados. Este livro é para dar início a uma discussão de mudança”, lê-se no marketing livreiro da Contraponto, citando a autora.
Trata-se de um objectivo ambicioso, levar o legislador a agir para que “algo seja feito para a regulação da ofensa e da injúria nas redes sociais”. Mas é, sem dúvida, um objetivo justo. Tiro-lhe o chapéu.
No entanto, adivinha-se uma batalha perdida. Muitos estão convictos de que tudo isto não passa de marketing e que a única coisa que interessa à apresentadora da TVI e à editora do “Pra Cima de Puta” é vender papel.