Ando preocupado com o Senhor Favor, por causa dos ataques islâmicos no norte de Moçambique. Ele é poeta. E um padre ofereceu-lhe um livro do americano Walt Whitman. Nas nossas conversas misturou sempre poemas de Walt, versos seus e diálogos com ratos do campo. Os bichos traziam-lhe notícias vindas de longe. O Senhor Favor desde cedo tornou-se também perito em política internacional, por ter um Sony multi-ondas. Para captar a RFI, a BBC e mais.
Quando era miúdo acartou sacos de arroz para a Frelimo. Cresceu e deram-lhe uma AK-47, como atestado de maioridade aos 14 anos. Depois passou-se para a Renamo, porque os grandes da Frelimo foram viver para Maputo, junto dos sul-africanos. Para terem uma vida boa.
Passei longas horas em Maringué com este homem sábio. Eu não fumava. Mas o senhor Favor partia o cigarro artesanal ao meio. Eu lá me engasgava e tossia, mas satisfeito.
“Nada mais tenho” e sorria. Falava de Gebuza, de Durão, de Delors e depois de Obama e do G7 e do G20. E eu ouvia. “Vai mais uma metade?” Ó senhor Favor…“Ora, aceite por favor!” e ria com o trocadilho. Acompanhávamos as fumaradas com chá de menta e um pingo de lixívia.
O senhor Favor declamava Whitman. “Estranho! se ao passar, tu me encontrares e desejares falar comigo, porque não falar comigo? E porque não falaria eu contigo?” Brilhante. Uma amizade forte constrói-se com palavras simples.