ALERTA CM

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Não existe nada mais hediondo do que um crime. Não existe nada que crie mais revolta no ser humano do que um homicídio. Não existe nada que provoque mais dor do que a morte.

E os assassinos, por mais repugnantes que sejam, têm pai, mãe, por vezes companheiras, por vezes filhos. Podemos sentir desprezo, falta de empatia, raiva, revolta e tudo o que de mais visceral existir por quem rouba a vida a alguém que amamos. É legítimo e quem de nós poderá julgar tais sentimentos?

Porém, o que aqui me traz hoje é a forma abusiva como alguns meios de comunicação tratam hoje os casos de homicídio. Felizmente não todos, mas um em particular e que todos conhecemos, fá-lo de forma completamente aterradora.

Nos últimos tempos fomos confrontados com crimes como os da “Máfia de Braga”, o de “Rosa Grilo”, o de “Diana Fialho”, o de “Rúben Couto” e o chocante caso de “Valentina” que causou enorme consternação em todo o país. Crimes absurdos que falam por si só.

No entanto, não posso deixar de falar na posição que a CMTV tem tido em relação a estes casos. Sim, é importante darmos conta do que se passa no país. Sim, é importante que a população seja informada sobre estes casos de homicídio e sobre as penas que são aplicadas. Sim, o mediatismo destes casos é uma componente importante na sobrevivência dos jornalistas e dos meios de comunicação social em geral. O que ultrapassa esta fronteira é que não é normal.

No caso do canal de televisão em apreço, assistimos a horas de comentário sobre os homicídios mencionados anteriormente. A questão a ter em conta é que não se ocupa esse tempo a falar do crime, dos contornos mais ou menos macabros, nem do móbil dos mesmos. Isso são pormenores de somenos importância. Fala-se, essencialmente, do assassino, esse ser vil que merece todo o mediatismo.

Rosa Grilo tem um filho. Durante semanas assistimos a comentários diários sobre a “assassina”. Do filho e da dor que lhe pudessem provocar, não quiseram saber. Dos pais de Rosa Grilo, já com alguma idade, tantos lhes faz. A dor deles não importa quando comparada com as audiências que o perfil de uma “assassina infiel” pode proporcionar. Dos pais de Rúben Couto, que sofreram (e sofrerão para sempre) durante dias com o que era dito sobre o filho até este se suicidar, não quiseram saber. Dos filhos de Márcia, co-autora do homicídio de Valentina, não quiseram saber. Se Sandro ainda tem pais ou irmãos, não sei, mas também o que é que isso importa? Alguém que esteja a ler este artigo pode dizer-me se algum dia criou ou educou um filho para ele fosse assassino?

Enquanto se assiste no sofá lá de casa a este degradante espetáculo e se julga o criminoso, há pais, irmãos, avós, filhos e muitas outras pessoas ligadas a estes, que sofrem diariamente com o sucedido. Alguém acha que sofrimento de vê-los presos ou mortos não é por si só o bastante? Focarmo-nos no homicídio e não no homicida seria o mais correto.

Aos meios de comunicação social cabe o dever de informar, sobre homicídios ou quaisquer outros assuntos importantes para a comunidade. Aos tribunais cabe o dever de julgar os homicidas e de ilibar os inocentes. É para isso que a justiça serve. A mim e a vós que me lêem, cabe-nos o dever moral, simples e soberano de mudar de canal.

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