O autarca Basílio Horta anda a prometer um hospital novo em Sintra desde há um ror de anos. Numa busca rápida que fizemos pela net, nos últimos cinco anos a promessa já foi utilizada uma dúzia de vezes.
Em 2017 houve eleições autárquicas no dia 1 de outubro. Um ano antes, em novembro de 2016, Basílio começou a prometer um novo hospital para Sintra.

A promessa foi reafirmada ainda em novembro de 2016. Basílio exibia, então, ao povo que tinha influência suficiente para ir ter com o ministro da Saúde e exigir o novo hospital. Mas ele sabe bem que quem autoriza a construção de um hospital não é o ministro da Saúde, mas sim o ministro das Finanças.
Durante o ano de 2017, à medida que se aproximava a data das eleições, o novo hospital foi usado e abusado na propaganda política do autarca que queria renovar mandato. Por exemplo, em julho desse ano o avençado Sintranotícias publicava que “o novo Hospital de Sintra deverá ser aprovado na próxima segunda-feira e já tem o acordo de Mário Centeno, ministro das Finanças, e do ministro da Saúde.”
Mas já então o novo hospital deixava de ser encargo do Estado para passar a ser encargo da autarquia, segundo o acordo que Basílio teve de assinar com as Finanças.
“Segundo a LUSA”, citava o Sintranotícias, “o documento, a discutir pelo executivo municipal, na segunda-feira, prevê que o município invista 29,617 milhões de euros na “conceção e construção do Hospital de Proximidade de Sintra” e o Estado assuma 21,660 milhões com “aquisição e instalação do equipamento necessário ao seu funcionamento”.
“Este acordo é a única forma de tornar realidade a criação de um novo hospital em Sintra, uma necessidade com mais de 20 anos”, disse à agência Lusa o presidente da autarquia, Basílio Horta.
Basílio venceu em 2017, com margem mais folgada em relação à eleição anterior. O papel que o novo hospital representou nesse resultado não se pode desdenhar. Foram dois anos a martelar na mesma promessa e as pessoas acabam por acreditar. Mas o hospital não foi construído.
Entretanto, passaram mais quatro anos e o novo hospital (que continua por construir) renasce na propaganda do autarca. Mas, se em 2017 o Governo não tinha condições financeiras para fazer o novo hospital, será que vai ter, agora, com a devastação que a pandemia está a provocar na economia do país? As dúvidas são legítimas.
Em janeiro deste ano, Basílio garantia que “neste momento está a ser finalizado o caderno de encargos, estimando-se que o concurso público da empreitada possa ser lançado até ao final do primeiro semestre deste ano”. O semestre terminou sem que o concurso tivesse sido lançado.
Nesse dia de janeiro, Basílio aproveitava a oportunidade de estar reunido o Conselho Estratégico Empresarial para anunciar pomposamente algo que, mais uma vez, não iria cumprir. Note-se que, na mesma ocasião, a ministra da Saúde apenas se comprometia com médicos e enfermeiros de família: ““é meta do governo implementar medidas de solução, que permitam à população ter médico e enfermeiros de família e a hipótese de ter um secretário clínico nos cuidados de saúde de apoio às equipas multidisciplinares”. Não pronunciou uma única vez a palavra “hospital”.

Há cerca de uma semana, a autarquia anunciou, finalmente, que ia lançar o concurso público para a construção do hospital. Na lenda de Pedro e o Lobo a “mentira” tem menos repetições.
Se o concurso público se concretizar, se não houver atrasos no processo, talvez Basílio Horta consiga, ainda, lançar a primeira pedra da sua obra. A acontecer, será mesmo em cima da próxima campanha eleitoral.
O investimento agora passou para 40 milhões, segundo se lê na imprensa que cita informações fornecidas pela autarquia. A obra ainda não começou e já derrapa em quase 11 milhões de euros. É verdade que já passaram alguns anos desde que foi feito o orçamento da empreitada, mas a inflação tem sido quase nula nestes últimos seis anos.
O que não foi inflacionado foi a dimensão do novo hospital. Vai ter apenas 60 camas. Poucochinho dizem os críticos.

Alguns perguntarão, como é possível a imprensa andar sempre a dizer a mesma coisa, a repetir notícias e não questionar a fonte? A resposta está na qualidade do serviço prestado pela agência de comunicação que trabalha para a Câmara Municipal de Sintra. Na agência trabalham bem, nas redações já só há uns nabos que nem percebem bem o que andam a fazer.