Vai estar patente na Galeria de Arte do Casino Estoril, a partir das 17 horas de sábado, 17, e até 10 de Novembro, uma exposição de pintura de Rui Carruço.
Natural de Lisboa, onde nasceu em 1976, Rui Carruço sentiu que a sua vida deveria estar ligada às ciências exactas, e, por isso, nessa direcção caminhou. Todavia, outra paixão cedo o começou a seduzir: a pintura.
Primeiro, como autodidacta. Considerou, depois, que o melhor era mesmo enveredar por aí, com todas as veras da sua alma. Começou por frequentar, em 2000, o curso de Desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa; seguiu-se, em 2003, o Curso de Gravura da Cooperativa de Gravadores Portugueses e andou, nesse ano, a ganhar experiência por vários ateliês de artistas. Em 2004, rumou a Florença, inspirador berço de artistas, onde fez o curso de Técnicas de Pintura Renascentista, na Angel Academy of Arts. Regressado a Portugal, despertou-lhe a atenção Pêro Pinheiro, de grande tradição no trabalho da pedra, e aí fez, pois, em 2005, o curso de Escultura em Pedra, no Centro Internacional de Escultura.
Dotado de toda esta bagagem, Rui Carruço aspirou a ser uma «voz original no mundo da Arte». Assim a modos de uma síntese entre as tais ciências exactas que deixara e o mundo da Arte que o seduzira. Diz ele que encarreirou pelo «sinuosismo», eco dos saberes científicos do «espaço-tempo curvo e do movimento perpétuoP, ideias bebidas no mundo da Física, que irmanou com a pintura e que, desde 2013, começou a ensinar no Atelier Internacional de Belas Artes, de que é co-fundador.
Levou-o por esse mundo fora a vontade de expor os seus trabalhos e já tem o privilégio de ver quadros seus nas salas de entidades públicas e, claro, em casas de particulares, entre os quais tenho o privilégio de me incluir.
Para se ter uma ideia do sinuosismo – qual simbiose equiparável (perdoe-me, Carruço, se escrevo um disparate) ao geometrismo a que já o talento de Nadir Afonso nos habituou no túnel do Parque Palmela para o paredão, em Cascais – olhe-se para o quadro que ilustra esta nota, que é o pano de fundo do convite, pintura a que o artista deu o sugestivo e mui oportuno título de «colorir os teus dias cinzentos».
Cinzentos podem ser, de facto, nossos dias, na atropelada azáfama da rua urbana, pejada de automóveis e de gente, ameaçada (dir-se-ia) pelo gigantismo medonho dos arranha-céus que a ladeiam. Tudo delineado, geometricamente contido, sem lugar para o sonho, porque só lá ao fundo estreita e cinzenta nesga de céu se deixa entrever. Em contrapartida, porém, atraem-nos essas escassas manchas vermelhas em primeiro plano, aqui e ali, e os amarelos cor de pele. São eles, de facto, que, na «inquietude do Ser», logram emprestar cor aos nossos dias cinzentos! São… gente! E de pessoas andamos ora sequiosos, que o confinamento delas nos forçou a apartar!
Uma exposição, pois, a ver com os olhos da mente!
Agradeço muito ao José d´Encarnação a informação contida neste belo texto. Sem ela nada conheceria deste artista plástico criador do sinuosismo. Pela amostra (só pela amostra) parece-me um caminho de linhas direitas, rectilíneas, bem pouco sinuosas, mas disso nada entendo, o quer dizer que terei de ir ver a exposição para perceber o conceito, ou os conceitos, subjacentes à obra do pintor. Isso embora o autor do texto tenha feito uma explicação exemplar e exaustiva. Parabéns.