A população de Lisboa continua a decrescer e é por causa do (des)amor. As estatísticas da Pordata apontam para 508 368 habitantes em 2019. Lisboa perdeu 54 944 lisboetas em 18 anos.
As cidades são a história do Mundo. As cidades, e as batalhas. As civilizações e o bem-estar constroem cidades. Os habitantes interagem com amor, ódio e todos os sentimentos que Ovídeo deu conta em “A Arte do Amor”, escrito há dois mil anos. Para Ovídeo o amor e as conveniências já eram, naquele tempo, o cimento do futuro sustentável.
Pedro Santana Lopes também pensou o mesmo, quando foi provedor da Santa Casa. Preocupou-se com os habitantes de Lisboa que “vivem e morrem sozinhos”. “São muitos, muitos”, disse-me. A solidão em Lisboa é fácil de descobrir. Quando começa a anoitecer, as luzes acendem-se timidamente, porque a luz está cara. Andamos a pagar “rendas” a chineses e a gente podre-de-rica. Uma hora depois as luzes apagam-se. E ali está a gente que vive sozinha, que já nem vê televisão. Estamos a falar dos bairros antigos da cidade. Não de Telheiras ou da Alta de Lisboa, onde a música é outra.
Uma cidade é uma rede de interesses e objectivos, onde os afectos são essenciais. Aos 50 anos de idade, começamos a perceber a importância de ter amigos, para além dos senhores do 112. É importante procurar o que nos une na cidade. E seria aqui que Medina encaixava bem. Mas Medina está desatento, tal como todos nós estivemos enquanto fomos novos. Nos últimos 46 anos andámos a mijar no mundo, como se fossemos super-homens eternos. Mas isso mudou com a pandemia, de forma brutal. Caímos na realidade. Estamos confinados, reduzidos ao nosso espaço e às nossas dificuldades.
Não temos famílias sólidas. Amigos fixes. Tertúlias do coração. Partidos políticos onde nos podemos rever. Os lisboetas acima dos 65 anos representam mais de 28 por cento da população. Nos próximos dez anos, serão 40 por cento. Estarão envelhecidos e alquebrados.
Os lisboetas vivem cada vez mais sozinhos, mesmo os mais novos. E não precisam de ciclovias, porque a cidade é uma montanha russa disfarçada. Precisam é de quem lhes telefone. “Alô! Daqui é o Fernando, o Medina! Venha tomar um cafezinho comigo”. Ops! Eu estava muito ocupado mas aceito já, muito obrigado senhor presidente!