Mais de 7 milhões de portugueses possuem telemóveis com acesso à internet, mas isso não os torna mais comunicativos.
Há 10 anos era um fartote de sms, uma média de 10 por dia. Agora não ultrapassam os quatro. Muito penduram-se no Messenger e no Whatsapp para evitar custo. Mas poderemos estar numa tendência de regresso à tradição do “sós, é que estamos bem”.
Desde o 25 de Abril de 1974, temos sido imbatíveis na solidariedade. A começar pela desastrosa “Pirâmide”, organizada por Fialho Gouveia e Raul Solnado frente à FIL. Desapareceram imensas coisas. Depois marchámos aos milhares por Timor-Leste, mas já ninguém se lembra. Mais recente aconteceu o peditório para as vítimas de Pedrógão, que se transformou num escândalo.
Quem nos vê, julga que somos abertos e comunicativos. Mas isso só acontece com tragédias e estrangeiros, mais para “inglês ver”. Em rigor, somos incapazes de retribuir sms, atenções e carinhos. Custa-nos muito expressar afectos, porque no nosso ADN está numa ditadura 48 anos que foi consentida e acarinhada.
No Verão, a Protecção Civil gastou 900 mil euros para nos prevenir do risco de incêndios. Mas ninguém ligou grande coisa. Se tivesse sido um telefonema talvez. Como nos velhos tempos, em que o telefone era raro e as pessoas cuidavam de fazer vista.
Temos os tais 7 milhões de telemóveis, mas servem para quê? Para uma roda fechada. Ligar à filha e ao filho, ao pai e à mãe e para “não te esqueças de comprar pão”. E está feito! Liga-se pouco aos outros para perguntar e apoiar. Um dia, se continuarmos assim, seremos apenas uma empresa de 10 milhões de colaboradores, como agora é fino dizer.