Aos 35 anos de idade, batendo recordes sobre recordes, Lewis Hamilton inscreveu Portugal e o circuito de Portimão nos anais da Fórmula 1 não só por ter sido o vencedor da prova mas também, e sobretudo, por ter obtido aqui a sua 92ª vitória, ultrapassando o número místico de 91 vitórias do hexacampeão mundial Michael Schumacher. E tudo aponta para o britânico se sagrar Campeão do Mundo de Fórmula 1 pela sétima vez, o que, por si só, o coloca no trono dos maiores pilotos de automóveis de todos os tempos.
Frio, calculista, perfeccionista, Hamilton é mais um computador a adicionar aos vários que a bordo do seu carro, controlam tudo o que o faz rodar à volta das pistas de todo o mundo. No rescaldo das suas vitórias, nunca se esquece de agradecer aos mecânicos, aos técnicos na fábrica, à equipa em geral a contribuição técnica e o trabalho árduo que o leva aos lugares mais altos dos pódios, sendo ele o último elo da cadeia extraindo o máximo da mecânica que lhe é proposta a cada saída para a pista.
Hamilton vive de convicções fortes e por vezes criou situações incómodas como quando saiu da McLaren para ingressar na Mercedes depois de ter feito juras de fidelidade à equipa britânica que, aliás, esteve na base da sua evolução como piloto desde as mais baixas categorias, ajudando-o e protegendo-o.
Estabilizado financeiramente depois de ele e o pai terem feito grandes sacrifícios para a jovem promessa prosseguir a sua senda, Hamilton tem vindo a manifestar fortes preocupações sociais fora do mundo do automóvel. Mostra-as de várias maneiras, e passa a imagem mais humanizada de alguém que ganha cerca de 50 milhões de dólares por ano. Podia passear-se num iate nas águas cosmopolitas do Mediterrâneo, mas prefere descer à rua com um cartaz na mão a participar em manifestações a favor de uma sociedade mais igualitária, mais inclusiva como está na moda dizer-se agora. A isso soma-se a sua acção de luta contra o racismo, tendo conseguido obter das autoridades desportivas autorização para se ajoelhar na grelha de partida em defesa do movimento “Black Lives Matter” convencendo os seus colegas pilotos a fazerem o mesmo. Trata-se de uma atitude controversa que tem gerado críticas mas que, aparentemente, não o incomoda, tão seguro ele está das suas ideias.
Lewis está na mesma linha de acção de outras figuras tornadas bandeiras de várias lutas, como a Prémio Nobel Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa que luta pela defesa das crianças, ou a sueca Greta Thunberg, a não menos famosa activista ambientalista. Ou até mesmo o seu ídolo de infância, Ayrton Senna, que trouxe a espiritualidade e crença religiosa para o nundo da alta velocidade.
E é isto que é fascinante Pessoas que saem das suas “zonas de conforto” e descem às ruas como qualquer outro cidadão preocupado e defensor das suas crenças, trocando descanso e compromissos profissionais – um piloto de Fórmula 1 tem sempre uma agenda carregada de encontros, reuniões, acções promocionais – por uma luta que acha que deve travar fora do seu ambiente natural que são as pistas de corridas.
Numa altura em que a maioria dos pilotos já assinou por outras equipas ou confirmou a continuação na actual para a próxima época de 2021, Hamilton mantém o tabu de não revelar nada sobre o seu futuro. Diz ele que há tempo para se sentar e conversar com a casa alemã e que, por agora, está concentrado no Campeonato. Mas uma coisa ele garantiu aos jornalistas: não vai abandonar as suas actividades cívicas.