A Justiça portuguesa não consegue ser cega. Não trata de igual modo todos os portugueses. Caso contrário, Ricardo Salgado já estaria sentado no banco dos réus.
Comparemos com Rui Pinto. A instrução dos processos do pirata informático foi feita num abrir e fechar de olhos. Já Ricardo Salgado, apelidado de “Dono Disto Tudo, tem os seus processos empastelados. E pode acontecer que nunca venha a ser julgado.
A saúde dos banqueiros é frágil, como se viu com Oliveira e Costa, condenado a 17 anos de prisão efectiva por causa das vigarices no BPN. Mas nunca pôs os pés na cadeia. Morreu sossegado na cama, aos 84 anos, rodeado de mordomias e enfermeiras, como se fosse o melhor dos santos na Terra. Oliveira e Costa foi condenado em 2017 pelos crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação de documentos e branqueamento de capitais, entre outros. Mas viveu mais 3 anos, sem sobressaltos.
Já nos Estados Unidos, Bernard Madoff, de 81 anos, cumpre há 10 uma pena de 150 anos de prisão.
A aplicação de Justiça em Portugal parece ter duas velocidades ou mais, depende da “cara do freguês”. E os executores da Justiça têm frequentemente diferentes pesos e medidas. Por exemplo, Vale e Azevedo foi algemado em público. E foi libertado por 5 segundos para ser de imediato preso, com uma câmara de televisão a cobrir a cena em rigoroso exclusivo. José Sócrates foi preso igualmente à frente das câmaras de televisão. Paulo Pedroso foi detido por juiz que se deslocou de propósito à Assembleia da República, com outra câmara da SIC a reboque.
Na mesma Assembleia da República onde Zeinal Bava teve um ataque de amnésia. Nesse mesmo palco, José Berardo até chegou ao desplante de fazer figura de tonto e rir dos portugueses. E o que aconteceu? Nada!
Procuradas por roubar pacote de batatas
Vamos ver que rato a montanha de Rui Pinto vai parir. Fiquemos sentados à espera do julgamento de Ricardo Salgado. Um caso onde parece existir muita gente presa pelo rabo. Ganhará a Justiça ou as influências? Ricardo Salgado, florentino nos seus contactos, ou Carlos Alexandre, o super-juiz justiceiro? Aposto que Ricardo Salgado nunca porá os pés no Tribunal. Ricardo Salgado não é um Sócrates qualquer. Geriu um império colossal, foi mesmo o “Dono Disto Tudo”. Ele vai fazer tudo para esmagar o juiz Carlos Alexandre.
Segundo consta, Salgado teve a protecção activa de ex-operacionais da Mossad, a secreta israelita, quando se alojou com o seu staff no Hotel do Estoril. Rui Pinto foi mais modesto, teve de vestir um colete à prova de bala para ir a tribunal.
Mas há quem não tenha direitos a nenhum desses mimos. Por exemplo, o furto de um computador com dados confidenciais – essencial ao trabalho da vítima – pode ficar a marinar anos e anos na gaveta de um polícia.
Os salamaleques da Justiça a Ricardo Salgado não serão dispensados a duas miúdas procuradas pela PSP por alegadamente terem furtado um pacote de batatas fritas num estabelecimento de Porto Santo, como dá conta o Diário de Notícias a 20 de Agosto último. O DN já tinha noticiado a condenação a 50 dias de prisão de um sem abrigo que furtou um champô de 25,66 euros de um supermercado no Porto, há alguns anos.