Lisboa, as controversas políticas de urbanismo

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A autarquia de Lisboa avisou que queria diminuir o número de automóveis particulares a circular na cidade. Avisou que tinha um plano para revolucionar o modelo da mobilidade das pessoas dentro da cidade. Avisou que o plano passava pela mobilidade ciclável, pelo incremento dos transportes públicos. A pandemia atrapalhou bastante os planos, mas a autarquia não os abandonou. E os resultados estão à vista, as reações de protesto também.

As mudanças em perspetiva são radicais:

Exemplo 1: na Avenida da Liberdade a circulação automóvel será proibida na faixa central entre a Rua das Pretas e os Restauradores, onde a autarquia quer criar um novo Passeio Público, à semelhança do que existiu até ao século XIX. Os automobilistas poderão usar as vias laterais da avenida, onde vai ser eliminado cerca de 60% do estacionamento existente para ser possível a criação de uma ciclovia de cada lado.

Exemplo 2: a Rua Nova do Almada e a Rua Garrett vão passar a ser totalmente pedonais, a Rua da Prata e o Largo do Chiado também ficam sem carros e apenas com transportes públicos. Na Rua dos Fanqueiros e na Rua do Ouro vão ser criadas novas ciclovias através da eliminação de vias de trânsito automóvel. Estão ainda previstas intervenções de alargamento dos passeios na Rua da Misericórdia e no Largo do Calhariz.

Exemplo 3: na Av. Almirante Reis, suprimiu-se uma via de tráfego automóvel para a criação de uma ciclovia bidirecional.

Mas há muito mais do que três exemplos relativos às alterações em curso no urbanismo lisboeta. As criticas que circulam nas redes sociais e, ainda, também, nos media tradicionais, falam dos engarrafamentos intermináveis, das dificuldades de estacionamento, do tempo que se demora para ir do ponto A ao ponto B dentro da cidade, dos incómodos que as alterações provocam também na logística dos estabelecimentos comerciais e dos serviços.Os críticos não são meigos com as políticas de Medina e dizem que “o trânsito está assustador. Trotinetes nos passeios, abandonadas, ou a andarem a 40 km por hora. Bicicletas fora de mão, por cima  dos passeios, pelo meio dos carros. Tuk-tuks poluidores por toda a cidade, só alguns são eléctricos, motoristas da UBER que conduzem como domingueiros, motas da UBER que aparecem como abelhas nos semáforos.”

Dizem que as ciclovias são um erro, porque atrofiam as vias dedicadas ao tráfego automóvel sem benefício para os habitantes da cidade. O vereador Miguel Gaspar (vereador da mobilidade) não concorda e responde que “a bicicleta já faz parte do quotidiano da cidade de Lisboa”. Uma espécie de facto consumado. Aliás, a autarquia anda a subsidiar a compra de bicicletas pelos munícipes. Será, talvez, uma medida para “ficar bem na fotografia” no ano em que Lisboa é a “Capital Verde Europeia”.

Os críticos contra-atacam nas redes sociais, de onde retirámos este comentário: “Sr. Vereador, o que foi um erro, de todo, foi não terem feito os estudos necessários para saberem em que faixa deviam ter colocado a ciclovia. A Almirante Reis no sentido ascendente é onde tem mais supermercados, farmácias e diverso comércio. Quando os fornecedores querem fazer as entregas, o trânsito fica parado até descarregaram. No sentido descendente não criaria tantos problemas. Parece-me que este Sr. Vereador está em teletrabalho, fora da cidade da Lisboa. O trânsito está caótico, cheia de carros porque as pessoas têm receio de andar nos transportes públicos. O verdadeiro trabalho que esta  autarquia devia fazer, já que quer tanto acompanhar o que se faz pela Europa fora, era acabar de vez, com as cargas e descargas a qualquer hora do dia e não permitir o estacionamento em segunda fila.”

No site Duas Linhas, numa crónica de opinião publicada em 31 de julho, pode ler-se que “quando Medina corta as veias principais de Lisboa, ou as estrangula para fazer pistas de bicicleta, está a destruir o tecido urbano, a degenerar a cidade. Prejudica fortemente quem trabalha na rua, que faz distribuição, que tem de levar filhos à escola e ir buscá-los depois do emprego.”

O plano da câmara é retirar 40 mil veículos da Baixa com a introdução destas medidas. Não podendo proibir que as pessoas entrem de automóvel na cidade, criam obstáculos de modo a retirar essa vontade aos cidadãos. Tem um custo político, mas são políticas que agradam a muitos. Na contabilidade dos votos, Medina pode sair a ganhar, porque é possível que os que vivem dentro da cidade já não sintam tanta necessidade de utilizar automóveis. Os transportes públicos, nomeadamente o Metropolitano, não funcionam mal de todo se descontarmos os apertos das horas de ponta.

Há, ainda, projetos que colidem com este desígnio de uma Lisboa mais verde e despoluída, que são os projetos de construção de grandes infraestruturas de serviços em diferentes pontos da cidade, a começar pela própria Avenida Almirante Reis que corre o risco de ter um arranha-céus no lugar da velha Cervejaria Portugália ou as torres que foram desenhadas para o lugar da antiga Fábrica do Açúcar, em Alcântara. Quando se continuam a construir hotéis, hospitais e blocos de escritórios, locais onde trabalharão muitas centenas ou milhares de pessoas, não há como evitar que muitas delas venham dos subúrbios em carro próprio.

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