Covid-19: transportes públicos são veículo de contágio, diz infeciologista

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Os transportes públicos são veículos de contágio da pandemia covid-19, o infeciologista Jaime Nina não tem dúvidas quanto a isso e diz mesmo que era preciso “ter quatro vezes mais carruagens, autocarros, e quatro vezes mais motoristas e maquinistas”.

Numa entrevista à agência Lusa, o infeciologista do Hospital Egas Moniz afirmou que “os transportes públicos são um dos pontos nevrálgicos da transmissão”, e defendeu que “para manter o distanciamento, os autocarros, os comboios e o Metro deviam ter fila sim, fila não, com passageiros”.

Se esta solução tivesse começado a ser pensada em maio, tinha havido tempo para reforçar a frota e ter “maquinistas e motoristas suficientes”. “É caro? É, mas ter a economia fechada não é mais caro”, questionou Jaime Nina.

Para este médico, o problema vai agudizar-se no inverno. “Enquanto que no verão as pessoas evitam os transportes públicos, têm as janelas abertas, se estiver uma chuva desgraçada não estou a ver ninguém a andar de carro com as janelas abertas, nem a andar muito na rua quando pode andar de autocarro”.

O infeciologista saudou o aumento da testagem, mas considerou que tem sido “muito lentamente” e “muito longe daquilo que deveria ser feito”. Exemplificou com o que países como Singapura, Taiwan, Hong Kong e Coreia do Sul estão a fazer ao nível de testes para apanhar os casos ligeiros e cortar as cadeias de transmissão.

“Portugal fez cerca de dois milhões de testes, Singapura vai quase em 100 milhões para uma população um bocadinho mais pequena que a nossa”, disse, observando que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, Portugal tem mais de 1.900 mortes e Singapura tem 27, com um número de casos sensivelmente igual.

No seu entender, “há muita coisa que está a falhar no rastreio e no encaminhamento de casos” porque “o Ministério da Saúde está a utilizar quase exclusivamente os recursos próprios”. Em abril e maio, contou, “quando toda a gente estava aflita porque não havia capacidade de fazer os testes todos”, os laboratórios de biologia molecular da Universidade Nova estavam fechados com as pessoas em teletrabalho, apesar da faculdade os ter colocado ao dispor. Por outro lado, podiam chamar os estudantes de medicina: “Era bom para eles porque estavam a fazer um trabalho útil e relevante para o seu curso e, obviamente, era bom para o Ministério da Saúde porque triplicava ou quadruplicava a mão de obra necessária para fazer rastreio de casos”.

Jaime Nina, médico infeciologista

Jaime Nina é professor na Universidade Nova de Lisboa, no Instituto de Higiene e Medicina Tropical e na Faculdade de Ciências Médicas.

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