Sintra, tesouro nacional abandonado

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Túnel de Carenque na CREL, na zona de Belas. Pelo túnel passam os carros, por cima está um tesouro nacional abandonado.

Quase todos ignoram, menos as autoridades municipais e governamentais. Mas se os ignorantes ainda têm a desculpa de não terem tido quem lhes ensinasse, já os governantes não têm desculpa para a inércia, para a inépcia, para a incompetência. Por cima do túnel existe uma jazida de pegadas de dinossauros, geomonumento classificado desde 1997 como Monumento Natural. Descoberta em 1986, a jazida contém um registo fóssil constituído por mais de uma centena de pegadas do início do Cretácico Superior numa pista com mais de 140 m de comprimento, produzidas por diferentes tipos de dinossauros bípedes e quadrúpedes.

Quem fez o achado foi o célebre paleontólogo Galopim de Carvalho. Quando o primeiro-ministro Cavaco quis alcatroar o trilho de pegadas de dinossauro, porque saía mais barato que fazer o túnel, foi Galopim de Carvalho quem lhe deu luta e obrigou a fazer o túnel. Gastaram-se vários milhões de euros nessa obra, as pegadas não foram alcatroadas mas estão ao abandono. No local há lixo ali deitado por empreiteiros de pequenas obras e de ausência completa de escrúpulos e há mato.

A zona está na fronteira dos municípios de Sintra e Amadora. Do lado de Sintra está o trilho de pegadas de dinossauro, no lado da Amadora está uma necrópole (cemitério) do Paleolítico. Ou seja, trata-se de um local extremamente valioso em termos arqueológicos que está protegido por Lei que ninguém exerce, embora a Câmara da Amadora desenvolva ali alguns trabalhos de arqueologia e promova visitas de escolas à necrópole.

Mas o trilho de dinossauros descoberto por Galopim de Carvalho tem sido ignorado pelos sucessivos executivos autárquicos. Nem Edite Estrela, nem Fernando Seara, muito menos Basílio Horta, fizeram alguma coisa para efectivamente resguardar o local da degradação e do mau uso, para fazer dali um pólo cultural e turístico, conforme foi proposto em tempos pelo arquitecto Mário Moutinho, em 1995.

Um projecto que foi orçamentado em 800 mil euros apenas e que previa  a construção de um “pegário”, uma estrutura em vidro sobre as várias pistas, a maior das quais atinge uma centena de metros. Uma escada em caracol da base da laje ao topo da antiga pedreira – onde se situaria o edifício de exposições -, permitiria visualizar as diferentes camadas geológicas e fazia também parte do projecto, que incluía  um jardim de minerais e outro com plantas ligadas ao período Cretácico. Um museu geológico. Nunca nada foi feito, a autarquia de Sintra alegou sempre “falta de verbas”, acreditem.

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