A eleição presidencial entrou na agenda política e os analistas começam a alinhar os candidatos, na grelha de partida.
Não faltam eminências para os lugares de trás, mas, com o PS a não acertar uma em todo este século XXI, o atual Presidente é já considerado virtual vencedor da corrida. Ainda que, no final de uma gestão errática e perdulária, em que não minorou nenhum dos problemas que hoje enfrentamos, se viva a maior crise desde a II Guerra.
Em nota de rodapé, até já aparecem os costumeiros candidatos de outros partidos de esquerda que, no seu habitual tabu, só demonstram as dificuldades que atravessam. E nem o desgastado BE, por mais “marisa” que seja a sua proposta, escapa…
Novidade será mesmo André Ventura, um “génio” em comunicação e que se tem afirmado por discursos extremados com que, não raro, afronta os valores que diz defender. Embora concentre uma razoável fatia de “mercado”, atualmente em rotura com o sistema, sente-se que não demonstra perfil, nem habilidade política, para garantir uma saída airosa para a crise que denuncia. Esta candidatura, a nadar nas águas do protesto, esgotará, contudo, outras sempre à espreita, tais como a do meu amigo Tino de Rans… um “sempre-em-pé”.
A outra “novidade”, Ana Gomes, a sofrer um luto a que me associo, deu ontem conta de “continuar em reflexão pessoal”. Neste caso, trata-se de uma diplomata brilhante e que prestou relevantes serviços a Portugal, na questão de Timor e não só, mas que sempre se destacou por “reflexões pessoais”, muitas vezes sem reflexão e equilíbrio. E a única vez em que pareceu assumir uma alternativa política, ainda nos tempos de Ferro Rodrigues, depressa manifestou falta de vontade, ou incapacidade para elaborar um programa e liderar um núcleo consistente.
Ana Gomes será certamente uma escolha “normal” para gente da “esquerda bem-pensante”, preferível à de um Sampaio da Nóvoa que, sem nunca ter apresentado o certificado de licenciatura que diz possuir, e sendo neste país de faz-de-conta o único embaixador que não é oriundo da carreira diplomática, parece fora da corrida. Seria uma escolha incontestada como Conselheira de Estado, “posto” a que o seu próprio Partido, que a considera uma divisionista, talvez nunca tenha a lucidez de a promover.
E óbvio que, a assistir à luta entre dois rottweillers, um de esquerda e o outro de direita, e ainda que sofrendo danos colaterais, vencerá folgadamente o atual “caniche”. Por demais desgastado e desbocado que se apresente…
E é neste cenário tão pobre que, nas minhas próprias “reflexões pessoais” engendrei esta estória. Diz o pessoal de Assumar que tal se passou na Urra, enquanto os da Urra asseguram que foi em Assumar. Vá lá os portugueses, muito menos os alentejanos, se entenderem…
Consta que um tal Miguel de Alcagoitas, herdeiro de tradições nobiliárquicas e sportinguista de gema, constantemente se gabava dos feitos desportivos do seu “clube”… ao caso ser dono de um “pitbull” que era “campeão do mundo e arredores”:
– Com o meu Rastêrinho, é que ele na se mete! – Desdenhava, contudo, o Manel Marmelo, firmado em traves vermelhas e encarnadas, estas últimas do Benfica.
– Ó Manel, nem penses. Ainda ontem ganhei mil euros com ele, em Lisboa. O meu pitbull esfarrapou o campeão de lá. Se eu não o tirasse, até o matava.
– Tá bêm, tá bêm, mas, acredite vossemecê, que com o mê Rastêrinho…
Conversa mole, que se arrastou por tempo demais lá na tasca da aldeia, até o Manel entornar o copo de vinho com um desdentar que só podia ser mal recebido:
– Olha que o meu pitbull, dá cabo do teu cão. – Destemperou o Miguel.
– Olhe, que não. Olhe, que não…
Uma observação que é um clássico da política e que caiu muito mal, levando o “visconde de Alcagoitas” a propor um desafio:
– Olha, que eu vou buscar o meu pitbull…
– Tá bêm, espero por vossemecê em minha casa.
Pouco depois, o tal Miguel chegou, não sem avisar:
– Olha que o meu pitbull derrete o teu cão.
– Solte-o vossemecê e cada um fica com o sê prejuízo.
– Se é assim que tu queres…
Concordou o outro, já cansado da farronca de quem lhe desvalorizava o curriculum. E, soltando o animal, logo o açulou para o quintal do Manel:
– Força, campeão! Dá cabo dele!…
Segundos depois, “caim-caim-caim”, o pitbull saiu de frosques, de fatiota esfarrapada e mais coxo do que os touros de Barrancos antes da estocada final:
– É Marmelo, eu não acredito. Mas de que raio é a raça do teu cão, que nem o ouvi ladrar?
– Vossemecê nunca ouviu dizêre, que cão que ladra na morde! Na sei respondêre, mas quando um cigano mo deu, era ele ainda canito, disse-me que era um… cão crudilo.
Moral da história?…